Perder por falta de comparência
Marcelo e Balsemão em 1975
Francisco Sá Carneiro tinha 39 anos quando fundou o Partido Popular Democrático, tornando-se seu líder.
Francisco Pinto Balsemão tinha 43 quando lhe sucedeu, já o partido se designava PSD.
Carlos Mota Pinto subiu à liderança com 47 anos.
Aníbal Cavaco Silva tinha 45 anos quando ascendeu à presidência dos sociais-democratas.
Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito líder aos 47 anos.
Durão Barroso assumiu a presidência do partido aos 43.
Pedro Santana Lopes sucedeu-lhe quando tinha 48 anos.
Luís Marques Mendes foi líder aos 47.
Pedro Passos Coelho ascendeu ao cargo máximo no PSD com 45.
É evidente, atendendo até a tais precedentes, que o maior partido com representação parlamentar em Portugal está a perder uma excelente oportunidade, nesta mudança de ciclo político, para fazer uma renovação geracional. Contrariando de algum modo a sua matriz genética.
O PSD sempre foi um partido com dirigentes jovens, sabendo interpretar e até antecipar os sinais de mudança da sociedade.
A campanha interna em curso contraria esta tendência. Os dois únicos candidatos ao cadeirão do poder na Rua de São Caetano à Lapa são Rui Rio (60 anos) e o repetente Santana Lopes (61 anos). Por ausência da geração dos 40 anos, que preferiu aguardar melhor maré.
Neste país de treinadores de bancada, sociais-democratas como Jorge Moreira da Silva, José Eduardo Martins, Luís Montenegro, Paulo Rangel e Pedro Duarte privilegiaram o cálculo político, nada consentâneo com a tradição do partido nem com os exemplos de desassombro que mencionei acima. Gostássemos ou não deles, todos aqueles líderes souberam dar o passo em frente no momento próprio, sem se resguardarem na sombra. Conscientes de que, no palco da política, a pior forma de perder é por falta de comparência.
Os quarentões actuais estão talvez convictos de que a mesma água passa duas vezes debaixo da mesma ponte. Mas já os antigos sábios gregos sabiam que não.