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Delito de Opinião

Perante o injusto não se calava

Fernando Sousa, 18.02.15

Conheci-o no Tempo. Era um devorador de livros, um apaixonado pelo cinema, um comedor de conhecimento. Trabalhava com calma, imune às tensões, incluindo as das horas de fecho. Nunca alimentou peneiras de quarto poder. A ironia era nele uma defesa, não um modo de vida - e se era bom nela! A sua escrita era rigorosa, informada, incisiva se fosse caso disso, e elegante, escrevesse sobre política, cultura ou desporto. Uma vez, por esses anos, desapareceu durante dias sem aviso prévio ou mensagem de doença. Quando o motorista do jornal lhe bateu à porta, encontrou-o com uma barba de dias e um monte de livros à direita, lá lidos, e outro à esquerda, por ler. Admirou-se que andassem à sua procura. Chamava-se Albano Matos, tinha 59 anos, trabalhou no DN até Junho do ano passado, quando o meteram num pacote de dispensáveis e o mandaram fora. Tinha outra coisa rara: perante o injusto, não se calava. Também por isto vai fazer falta. 

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