Penso rápido (94)
Os sintomas são iniludíveis: rumores transformados em factos, diz-que-disse alastrando como vírus ou bactéria, a lenda impressa em vez do facto. Traições, facadas nas costas, hipocrisia a rodos - um estendal de miséria humana. Sempre os melhores fins a justificar os piores meios.
Punir antes de condenar, condenar antes de julgar, julgar antes de acusar, ouvir apenas uma das partes: a negação do que deve ser a justiça. É quanto basta para erguer novos pelourinhos em nome de excelentes causas pervertidas até aos limites da abjecção.
Quem aplaude a caça às bruxas contra Woody Allen, por exemplo, é marioneta pronta a servir de pasto a qualquer totalitarismo.
Hoje, em grande parte do mundo ocidental, há menos liberdade e menos democracia do que existia entre as décadas de 70 e 90. Estamos cercados de novos tabus e proibições de todo o género em nome de dogmas identitários. Como o recente caso da interdição total de cartoons no New York Times - que costumava ser um dos faróis mundiais da liberdade de imprensa - bem demonstra.
Todos de bico calado, para evitar anátemas dos diáconos da correcção política que policiam palavras, gestos e comportamentos. Chamem-lhe o que quiserem para disfarçar, mas isto não é mais do que a ressurreição dos velhos censores. Com a agravante de estes agora nem terem a frontalidade de se assumirem como tal.