Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Penso rápido (61)

Pedro Correia, 15.12.14

O nosso idioma todos os dias se renova, todos os dias recebe os mais diversos contributos - uns óptimos, outros péssimos (como os que vêm do jargão económico ou são más traduções do inglês em versão americana). Mas nenhuma língua - em todas as suas componentes, incluindo a ortográfica - se impõe ou modifica por decreto. Os políticos não são linguistas nem lexicógrafos e quando se aventuram por tais vias fazem asneira grossa, como foi o caso do (des)acordo ortográfico, mal concebido e muito mal aplicado.

Passados todos estes anos (o AO já vem de 1990), ninguém sabe escrever segundo as normas acordísticas. Ninguém mesmo. Daí muita gente recorrer aos "conversores ortográficos" com matriz brasileira, que impõem a grafia de lá à revelia do próprio "acordo". Isto gera a proliferação de  fatos, até na mais conspícua escrita jornalística.

Resultado: após o extermínio das chamadas "consoantes mudas", segue-se agora o massacre das consoantes bem sonoras, como na palavra "bactéria", que não tarda muito começa a ser pronunciada batéria pois vai sendo escrita assim. Alguns, com muita lata, já pronunciam láteo em vez de "lácteo".

A "base fonológica" que servia de base ao (des)acordo emigrou para parte incerta. E a "pronúncia culta" tantas vezes invocada como fundamento da nova ortografia desapareceu sem deixar rasto.
Cereja em cima do bolo: o Diário da República tem vindo a tornar-se um espelho do analfabetismo ortográfico dominante. Sem que ninguém, nas chamadas esferas oficiais, pareça corar de vergonha.

23 comentários

Comentar post