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Ando a reler Nelson Rodrigues, sem dúvida o melhor cronista brasileiro de todos os tempos. E um dos melhores prosadores de sempre em língua portuguesa.
Deparo com isto, no seu livro O Óbvio Ululante, recolha de crónicas escritas em 1967 e 1968: «Com as técnicas modernas de promoção, o homem cada vez pensa menos. É o jornal, é o rádio, é a televisão, é o anúncio, é o partido que pensa por nós. Nós "achamos" o que os outros "acham". A "opinião" deixou de ser um acto pessoal, uma posição solitária, um gesto de orgulho e desafio. Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de sentimentos feitos, de ódios feitos.»
E com isto: «Primeiro, o homem não sabia estar só. Andava sempre em hordas ululantes. E quando, por acaso, desgarrava dos demais, uivava até morrer. Era assim o medo que juntava os homens. A multidão nasceu do medo. E o ser humano só se tornou humano, e só se tornou histórico, quando aprendeu a ficar só. O primeiro solitário foi também o primeiro homem.»
Pensava bem. E escrevia melhor.
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