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Delito de Opinião

Penso rápido (28)

Pedro Correia, 21.07.14

Num blogue que se diz de esquerda, perante um dos mais chocantes atentados de que guardaremos memória, alguém escreve que a culpa foi do avião civil carregado de passageiros -- não do míssil que o destruiu.

Num blogue que se diz de direita, alguém salienta que a culpa foi do corredor aéreo, pois já devia ter sido fechado.

Falta pouco para concluir que a culpa do morticínio foi das pessoas assassinadas, não dos assassinos.

É espantoso que o atentado -- tenha a origem que tiver -- não mereça uma palavra de condenação, uma palavra de lamento, uma palavra de humana comiseração pelas vítimas. Antes de qualquer considerando de ordem política. Como se, perante uma atrocidade, tivéssemos de escolher sempre um lugar numa trincheira.

É intolerável que vítimas civis e desarmadas de um conflito armado, sejam quem foram, acabem apontadas como "danos colaterais" de um conflito armado, seja ele também qual for.

Não devemos calar a nossa indignação perante o crime, venha de onde vier. Nem podemos permanecer indiferentes perante o crime, sob pena de nos transformamos em pequeninos cúmplices dos carrascos. Nem é aceitável adoptarmos a atitude cínica de Estaline, que dizia que "a morte de um indivíduo é uma tragédia e a morte de um milhão de indivíduos é uma estatística".

Importa-me, num primeiro passo, o olhar desprovido de considerandos políticos perante vítimas da violência mais primária e mais chocante e mais gratuita. Elevámo-nos felizmente acima da condição do nosso antepassado mais remoto, o homem das cavernas, graças ao enorme passo civilizacional representado por esse olhar.

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