Penso rápido (26)
Certos espíritos cartesianos, que fazem gala em tingir de verniz racionalista todos os segmentos da existência, mostram imenso enfado perante as paixões dos estádios. Apetece apontar-lhes o caso do alemão Mario Götze: talvez descubram nele o puro sortilégio do futebol.
Relegado para o banco de suplentes num torneio que na sua perspectiva parecia para esquecer, a meia hora do apito final Götze entrou em campo e tornou-se inesperado protagonista de um Mundial que para sempre recordará. Ao marcar o golo decisivo -- o da vitória, que muitos alemães já não esperavam -- cruzou o seu destino pessoal com o de largos milhões de adeptos.
Foi, sem dúvida, um dos melhores golos marcados em finais de campeonatos do mundo. Memorável não só pela circunstância mas também pela oportunidade, pelo recorte técnico, pelo instinto vencedor. A fotografia que corre mundo mostrando Götze no final, olhando o céu ainda incrédulo no rescaldo do lance que o tornara campeão, ficará como uma das imagens icónicas deste torneio de boa memória para quem aprecia futebol.
Por muito que isso custe aos tais cartesianos, incapazes de ver nos desafios dos estádios uma metáfora perfeita dos desafios da vida.