Penso rápido (21)
Sophia de Mello Breyner Andresen anda a ser editada em acordês. Há quem se indigne justamente com estas liberalidades. Eu sou um dos indignados.
Argumentam alguns, procurando defender o indefensável, que se lemos hoje Camões ou Camilo com ortografias diferentes das originais a mesma lógica devia aplicar-se à autora dos Contos Exemplares.
Mas são casos diferentes.
Sophia - assim e não Sofia, pois os nomes não se escrevem à la carte, no âmbito das "facultatividades" previstas no "desacordo ortográfico" - militou contra o AO 90. Não passou ao lado da questão: pelo contrário, tomou partido. Com a mesma firmeza revelada antes do 25 de Abril, no combate à ditadura salazarista, e nos tempos revolucionários, contra a ameaça de novas ditaduras em Portugal.
É uma profunda desonestidade intelectual editar os textos de Sophia em acordês, aproveitando o facto de já não se encontrar entre nós. Mais que isso: é um ultraje à sua memória.