Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Pensamento da semana

beatriz j a, 29.05.22

Ainda nem sequer passaram três meses de quando Putin tinha uma reputação a defender. Escrevia em letra grande na cena internacional. Agora é um infame, uma borracha que apaga anos de escrita a cada passo que dá. Como dizia Boris Pasternak, “Os homens no poder estão tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infalibilidade que fazem o seu melhor para ignorar a verdade.”

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

7 comentários

  • Imagem de perfil

    beatriz j a 23.05.2022

    A frase de Pasternak aplica-se, penso, a todos os que se apegam demasiado ao poder e seus privilégios. A Rússia não é conquistável, nem ninguém a quer conquistar. O que a maioria quereria é que a Rússia pudesse evoluir para uma democracia, à sua maneira e eu tenho esperança que isso aconteça. Há muitos políticos e russos cosmopolitas que agora estão presos ou vivem no exílio mas que têm esses ideais de modernizar a Rússia em termos políticos. Tirá-la da garra dos sovietes onde ainda está enterrada em termos de mentalidade.

    Os mais jovens, no entanto, já têm outra mentalidade e têm mostrado que querem sair e conhecer o mundo e ter relações com o mundo. Putin é o tipo de indivíduo que não pode estar à frente de país nenhum. Há outros Putins no mundo, só que não têm um país como a Rússia.

    Posso ser ingénua mas tenho esperança que daqui saia uma nova ordem jurídica e prática internacionais.
  • Sem imagem de perfil

    Francisco Almeida 24.05.2022

    E ingénua, é. Bem intencionada mas ingénua.
    A Rússia, nas suas enormes dimensões e diversidade não é governável a não ser autocraticamente. Foi-o em toda a sua história e, para não pensar que é apenas ideia minha, aconselho-a ler um dos grandes especialistas da história europeia dos sécs. XIX e XX, o infelizmente já desaparecido Vasco Pulido Valente.
    Assusta-me e devia assustar toda a gente, a ideia de um novo colapso da Rússia. Se já não é possível negociar com Putín mais será com os seus sucessores, se a Rússia se voltar a fragmentar. Em 1991 foi possível levar a Ucrânia, a Geórgia e outros a desistirem dos arsenais nucleares deixados nos seus países. Agora, duvido que isso fosse possível. Depois temos o maior dos problemas, a Sibéria, a maior reserva mineral do mundo. Todos a quererão e esse seria um conflito entre China e EUA, ainda que por interpostos países, que nunca poderia acabar bem.
    Depois temos outro ***pequeno*** problema. A reconstrução da Ucrânia, será financeiramente penosa para EUA e Europa, embora com a contrapartida de vitalizar muita da sua indústria, incluindo as semi-comatosas construtoras portuguesas. Agora, uma Rússia democrática e recuperada para o convívio europeu, teria de ser brutalmente financiada. Aliás como já o foi pelo BERD com dezenas de milhões de euros, o que só foi interrompido depois da Crimeia em 2014. Pura e simplesmente não é viável.
    Quanto à nova ordem jurídica e práticas internacionais, não é de todo impossível. Mas a equação é simples. Com democracia de um homem um voto, continuarão das ditaduras de maiorias sobre minorias, ou seja, mais tarde ou mais cedo, revoltas e violência. Com a democracia liberal, como eu a entendo e desejo, com liberdades individuais, direito de informação, de expressão e de reunião, não serão pacíficas as relações sociais em países com minorias culturais antagónicas. De maneira mais clara e mais brutal. Se não quisermos uma guerra com a China, temos que olhar para o lado em que não se vêem uighurs ou tibetanos. Ou fechar os olhos a um Irão a enforcar homosexuais e lapidar adúlteras.
    Talvez se possa, e isso seria já um passo enorme, aplicar a todo o mundo o que os europeus aplicaram em África. As fronteiras são as que estão e não vão ser discutidas ainda que tenham pouca consistência histórica e geográfica ou dividam um mesmo povo (quem conhece África, sabe do que falo). Isto a aplicar retroactivamente à Ucrânia incluindo Crimeia e imediatamente a Taiwan.
    Depois já se poderia comprar gás à Rússia, "gadgets" à China e petróleo ao Irão, para citar apenas três de muitos exemplos possíveis.
  • Imagem de perfil

    beatriz j a 24.05.2022

    Dizer que a Rússia não é governável a não ser autocraticamente é uma opinião e não um facto. Uma opinião muito influenciada por autores russos. Já li essa opinião em muitos autores. Não partilho. Não partilho de nenhuma opinião que defenda o determinismo. Não sou determinista e acredito muito na capacidade do ser humano evoluir. Os países que dizem isso são geralmente aqueles cujas elites não estão interessadas em partilhar o poder. Também se diz de Portugal que nem se governa nem se deixa governar, como se ainda estivéssemos no tempo de Júlio César. Essas frases servem sobretudo para os que se sentam no poder se desresponsabilizarem das suas acções.

    Não percebo o que chama a Rússia fragmentar-se. Ter de devolver o que rouba pela força?? Ou começamos a ter relações internacionais ligadas a uma ética inter-global ou ficamos no eterno retorno do mesmo. A Rússia tem muita gente com ideias não autocráticas e não-chauvinistas. Só estão exiladas ou presas porque Putin é déspota que corta tudo o que não se lhe submete, mas sem Putin, essas forças podem muito bem aparecer. E se aparecerem terão apoio do ocidente.

    A luta pelo Ártico, que já começou há tempo, ganhará muito se esta guerra for o início de uma nova prática internacional baseada no direito e não na força de imperialistas - a reconstrução da Ucrânia serve os interesses de muitas empresas europeias, bem como o dinheiro que lhe emprestaram.

    "Com a democracia liberal, como eu a entendo e desejo, com liberdades individuais, direito de informação, de expressão e de reunião, não serão pacíficas as relações sociais em países com minorias culturais antagónicas. " - nisto estamos de acordo, mas quer dizer, quem é que espera que tudo de repente seja um mar de rosas? Ninguém. Esse é um problema muito complexo. Agora, a verdade é que estamos num momento extraordinário da história em que os povos se unem contra a opressão imperialista e encontram mais o que os une que o que os desune e isso tem que ser aproveitado para dar passos positivos numa nova uma sociologia e filosofia política que levem em conta os direitos das pessoas e dos povos. Mecanismos e protocolos de aceitação comum. A democratização da Rússia custa dinheiro? Pois custa, mas veja-se o custo global desta guerra vinda directamente de uma Rússia despótica e desligada do ocidente. E mais ainda se a Ucrânia não a vencer e se deixar Putin à solta. Se se olhar para mais longe, penso que os ganhos são superiores.

    "Se não quisermos uma guerra com a China, temos que olhar para o lado em que não se vêem uighurs ou tibetanos. Ou fechar os olhos a um Irão a enforcar homosexuais e lapidar adúlteras." - isto não estou de acordo. Este tipo de pragmatismo trouxe-nos onde estamos. O argumento anterior à Primavera Árabe e à internet segundo o qual é a cultura deles e eles aceitam-na, sabemos agora ser completamente falso, porque milhares e milhares o denunciam e pedem ajuda ao mundo, usando as redes sociais globais. Não podemos defender os direitos humanos teoricamente e na prática fazer negócio com os seus abusadores como se nada fosse.

    É necessária uma reforma evolutiva da ONU. Mais inclusiva, mais responsável, mais eficaz e mais de acordo com os princípios que defende.

    Se há coisa que esta guerra mostrou foi a capacidade dos povos se mobilizarem pelos direitos dos outros. E se bem que não seja crível que isto se possa reproduzir como quem clica num botão, os abusadores agora sabem que isto pode acontecer. Ficarem completamente isolados do mundo, política e economicamente.

    Dizer que devemos manter a Crimeia como está, na posse russa, como se 8 anos de ocupação fossem argumento para se abdicar de uma parte do território, é abrir a porta para todas as ocupações possíveis, até porque a Rússia, tal como é, não cumpre acordos. Diz qualquer coisa no momento e depois faz o que quer - pensar que podíamos ter países imperialistas a acatar limites, sem um forte argumento dissuasor, isso é que me parece ingenuidade.

    Nós esperámos 60 anos e assim que vimos uma oportunidade expulsámos os espanhóis. Nem imagino o que seja viver sob ocupação de um povo atacante e virem-nos dizer, 'epá esqueçam lá isso e dêem-lhes o vosso território porque eles têm produtos que queremos'.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo 24.05.2022

    "expulsámos os espanhóis." Grande asneira. E há exemplos ao contrário.
  • Imagem de perfil

    beatriz j a 24.05.2022

    Há sempre excepções que confirmam a guerra e se quer ser espanhol vá para lá
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo 24.05.2022

    Eu sou espanhol mas vivo cá.
    Vai para a tua terra.... onde é que já ouvi isto?
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.