Pensamento da semana
Toda a vida assisti, do sofá, a guerras que chocaram a opinião pública. Mas quase todas eram lá longe, num mundo que não o meu, o que me criou a ilusão de que vivia na parcela mais civilizada do planeta. Bem sei, nos anos 90, o inferno desceu à Terra, nos Balcãs. Mas as razões dessa guerra eram muito locais, resultado de um ódio larvar entre etnias que eclodiu, mal a Cortina de Ferro se desmoronou. Vi-o, portanto, como um caso muito específico, nada que me impedisse de acreditar que pertencia à elite, à quota humana que já não desce abaixo da condição animal. Até que a Rússia invadiu a Ucrânia.
Agora, mais do que o desespero das vítimas e a bestialidade dos agressores, o que me abala é ter perdido todas as ilusões quanto à capacidade de evoluirmos como seres humanos. Porque vai-se a ver e a civilização é só verniz. Século após século o ser cavernícola continua a habitar no mais fundo de nós. Não morre. E às vezes sinto asco por pertencer a esta tribo.
Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.