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Delito de Opinião

Pensamento da semana

Teresa Ribeiro, 02.01.22

Sempre desconfiei da “felicidade que se constrói”, embora reconheça que há pessoas que são felizes por uma questão de sobrevivência. Falo de  casos em que os motivos de infelicidade são tão avassaladores, que se fossem assimilados, tornar-se-iam incapacitantes. Mas esses são exemplos extremos e em todo o caso não estamos a falar de verdadeira felicidade, mas de terapia de choque. Acredito que a regra é as pessoas realmente felizes serem-no por circunstâncias que não controlam: como terem níveis elevados de serotonina no cérebro ou simplicidade de espírito, factores que as predispõem para ver a vida sob o melhor ângulo.

Aquela emoção a que chamamos felicidade, aquela que depende da satisfação de desejos, é sempre fonte da angústia residual que consiste no medo da perda, no medo que se cumpra o destino transitório de tudo. Portanto na prática, a felicidade em estado puro não existe. E muito menos se constrói, como se fosse um lego. Isso é fantasia inventada pela Psicologia Positiva para vender livros de auto-ajuda.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

2 comentários

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    Teresa Ribeiro 28.12.2021

    Francisco, antes de mais, obrigada pela sua interessante reflexão. Também eu sou leitora atenta de Damásio e considero que há um antes e um depois de O Erro de Descartes. A tecnologia - que concordo, nos veio complicar a vida no sentido em que o afirmou - deu-nos, por outro lado, a possibilidade de finalmente "ver" o que se passa num cérebro vivo. Desde então foi possível perceber muita coisa, nomeadamente a influência da sua morfologia e das trocas químicas que ali ocorrem na nossa personalidade. Só este conhecimento serve para desmontar as teorias de que a Psicologia Positiva tanto gosta e que servem para alimentar a indústria dos livros de auto-ajuda. É que não basta querermos, para sermos. Se é verdade que o cérebro é o regulador de tudo o que se passa no nosso organismo, não é menos verdade que ele próprio depende da matéria orgânica de que se compõe.
    Devemos ter sempre isto presente. Também, em momento algum, devemos desvalorizar a importância da influência do meio na nossa psique. O exemplo que deu, dos monges budistas, entronca aqui. Sim, aquela peculiar forma de estar na vida talvez conduza à felicidade. É como se eles vivessem num ginásio sujeitos a um treino intensivo, 24h sobre 24h. Mas essa felicidade musculada só está acessível a muito poucos...
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