De Carlos Sousa a 15.02.2021 às 15:33
A filosofia é uma questão de análise conceptual - ou seja, pensar sobre o pensamento. Mas como é uma actividade que tem uma história; e como progride tão pouco, a sua história é mais importante que a sua finalidade.
E a sua história é sempre a mesma, gira tudo à volta do Sócrates, que curiosamente não escreveu nada.
Depois de muitas reflexões completamente inúteis temos uma de Aristóteles o estagirita. "As cobras não têm pénis porque não têm pernas; e não têm testículos por serem tão compridas".
Hoje a filosofia está mais evoluída, as frases fazem muito mais sentido.
" As pessoas podem ir ao jardim não podem é parar no jardim ".
De SAP2ii a 15.02.2021 às 20:29
Discordo.
A "palavra" é a ferramenta de programação da cognição humana (cérebro). É o instrumento para formatar as ideias e as mentalidades. O interruptor para desencadear muitos dos comportamentos individuais e colectivos (multidões, manifestações, comícios, revoltas, invasões ao Capitólio, etc.).
Depois dos contributos de John O´Keefe, Eric Kandel, Edvard e May-Britt Moser (muito mais do que os linguistas) --- apenas para citar quatro contributos que valeram prémios Nobel --- percebemos essa realidade com muito maior precisão.
Na Física e na Matemática, muitas das asserções dos melhores filósofos deram origem a avanços. Por exemplo, o teorema de K.Gödel, que foi um dos maiores avanços na Lógica no séc.XX, teve a ver com L.Wittgenstein e I.Kant.
Hoje, o funcionamento dos reactores Tokomak de fusão nuclear, ou as equações utilizadas no CERN, etc., mostram que os físicos, matemáticos e engenheiros usam a filosofia como um apoio imprescindível para pensarem.
De SAP2ii a 17.02.2021 às 00:30
Carlos Sousa,
1. Na edição que possuo do “Tractatus...” (Fundação Calouste Gulbenkian, nov.1987) está em 6.54, na pág. 142.
2. Uma excelente contextualização e análise dessa resposta, foi publicada por P.Watzlawick, et alli, em “Pragmatics of Human Communication: a study of interractional patterns, pathologies, and paradoxes” (1967, Norton&Ca, New York).
3. No último capítulo (pp. 260-276), mostram a relação dessa resposta de Wittgenstein com o “teorema da indecidibilidade de Gödel” --- publicado em 1931 (“Über formal unentscheidbare Sätze der Principia Mathematica und verwandter Systeme I”, in Monatshefte für Mathematik und Physik, vol 38, pp. 173-198).
4. (passo a citar, P. Watzlawick et alli, 1967): “Se nos debruçámos tão longamente sobre a obra de Gödel é porque vemos uma analogia matemática com aquilo que poderíamos designar por paradoxo da existência humana. O ser-humano é, no fim de contas, afinal, sujeito e objecto da sua própria pesquisa. Logo, se é impossível ele definir-se a si próprio, então podemos considerar o seu espírito como análogo a um Sistema Formalizado.... Isto é, a sua busca de compreensão do sentido de si próprio e da sua existência, como uma tentativa de formalização. Esta descoberta não lhe pertence em exclusivo; com efeito, dez anos antes da apresentação do brilhante teorema de Gödel, um outro grande espírito do nosso século tinha já formulado o paradoxo em termos filosóficos: Ludwig Wittgenstein no Tractatus logico-philosophicus.” (p.274).
5. Ora, essa CONDENAÇÃO AO SILÊNCIO... essa resposta dada por Wittgenstein usada para definir o sentido da existência humana, é, na minha perspectiva um ERRO. Que tive a oportunidade de demonstrar, aliás, numa obra que publiquei.
6. É um erro, porquê? Esse “silêncio” wittgensteineano não é a “resposta” para o sentido da Vida, porquê?
7. Porque, tanto Wittgenstein como Gödel, consideraram a indemonstrabilidade do sistema nos termos daquilo que ele é, no momento da demonstração. Logo, se usássemos essa analogia, para resposta ao que é o “sentido da vida”, fechá-la-íamos numa prisão e condená-la-íamos a um fechamento resultante da circunstância de os limites humanos serem aquilo que são no momento da demonstração (1921/1931). Cometeríamos um erro. Porque ela, a Vida e a Existência, não se comportam assim. Nem estão sujeitas áquilo que o ser-humano é em 1921/1931.
8. Ou seja, a incompletude e a indecidibilidade estão no Ser que tenta a demonstração. Esses teriam de ficar em silêncio, porque não sabiam pronunciar a resposta.
9. Na minha demonstração desse erro, mostrei que a resposta pode ser diferente do silêncio. Porque a Vida permite um Ser de nós que há-de vir. E esse poderá consegui-lo. E que, esse Ser poderá continuar a chamar-se «humano».
10. Razão pela qual --- perante essa desistência de Wittgenstein (ao remeter-nos para sempre ao silêncio) --- criei um Método diferente, para se conseguir responder a essa pergunta sobre “qual é o sentido da Vida”. A que chamei “Impronuncialismo” (ver no Sapo/blogs “Impronuncialismo”).
11. Ou seja --- como os factos empíricos mostram, na escala histórica da filogenia --- é possível ao ser-humano interferir com o «sistema que é», desde que continue a transformar-se. E daí, desse lugar exterior ao que foi no passado, forjar uma premissa capaz de se ler a si próprio.
12. É nesse “sentido da Vida”, entendida como «transformação», que se pode responder à pergunta. Portanto, ficar em silêncio é um erro e uma desistência. É, até, um acto contra a Vida. Contra aquilo que ela não é. Logo, não é essa a reposta, para «o que ela é, e o sentido que tem».