Lembrando Darwin, os mais aptos, sobrevivem não por serem os mais fortes, ou os mais inteligentes, mas por serem os que mais facilmente se adaptam às mudanças ambientais do seu habitat.
Assim as espécies animais menos especializadas apresentam uma desvantagem competitiva, em habitats estáveis, quando competem com outras muito especializadas. Contudo se o ambiente sofrer alterações, repentinas e/ou drásticas, as espécies altamente especializadas, serão as mais vulneráveis a uma extinção, ao contrário das outras, que não se tendo especializado excessivamente, apresentam uma maior flexibilidade de adaptação, de resposta às novas pressões da selectivas.
Julgo que o ser humano, com o passar dos milénios, se tornou um animal muito especializado, levando essa especialização a uma perda de autonomia individual, acompanhada, simultaneamente, de uma crescente dependência das coisas que, criadas por ele, o substituíram (especialização do saber vs interligação dos vários saberes; saber muito de pouco e pouco de muito). Ironicamente o Homem tem, assim, desaprendido, por ter aprendido a fazer os seus mais fantásticos engenhos. Um dia que os não possa fazer (falta de matérias primas, etc), ou que seja obrigado a adaptar-se a novas condições exteriores, dele não dependentes, fá-lo-á lentamente, na melhor das hipóteses. A questão não será tanto a sobrevivência da espécie humana, mas o número dos que perecerão, inutilmente, em consequência dessa lentidão, dessa dificuldade de adaptação, típica, dos animais altamente especializados.
De Anónimo a 23.09.2019 às 23:59
A ideia está certa, a conclusão é que não. O homem é o ser mais adaptável que existe. Derivou dos macacos de África com clima tórrido e foi viajando para outras latitudes mais frias, passou a alimentar-se de comida que macacos não comem, a vestir-se para sobreviver ao frio, etc. porque é inteligente, sabe fazer ferramentas que o ajudam a sobreviver quando o ambiente à volta se torna hostil.
É provável que as alterações climáticas produzam grandes catástrofes, escassez de alimentos, doenças, etc. que dizimem milhões de seres vivos incluindo homens, mas sempre ficarão alguns de cada espécie para recomeçar a evolução das espécies de acordo com as leis da Natureza.
As pragas de gafanhotos extinguem-se naturalmente quando a comida acaba, mas seria necessário que a comida faltasse em todos os campos (ao mesmo tempo) aonde há gafanhotos para que essa espécie se extinguisse. Isso é extremamente improvável. Eles continuam aí!
Imaginava um contrargumento, deste género, pertinente, na minha opinião, apenas se aplicado ao Homem de há 1.000.000 anos, e que algures, no século XVIII d.c perdeu a sua relevância biológica, quando a Humanidade calcou a Natureza, fazendo pouco dos seus naturais critérios.
Tentarei cingir-me ao que julgo ser fundamental.
Nos últimos séculos, a maioria dos humanos, tem-se concentrado num tipo específico de habitat, as cidades, constitutivas de um ecossistema, por assim dizer, desligado do mundo natural (90% da população mundial vive, hoje, num raio de 160km da costa marítima). Este cisma reforçou-se, posteriormente, com o surgimento e posterior instrumentalização do conhecimento científico. Um Saber que visou, algum tempo após a sua descoberta, a manipulação, o domínio do mundo exterior, seguindo, comummente, desejos voláteis, critérios inaturais, destrutivos, que não conduziram, quer a uma melhor compreensão do lugar que ocupamos na Terra, quer a uma melhor integração no mundo natural.
Simultaneamente os tais ecossistemas artificiais, criaturas do Homem, têm mudado a natureza do seu próprio criador, através de novas pressões selectivas, estrangeiras ao mundo natural, provenientes dessa nossa rica e complexa imaginação (no início a obra nascia do sonho. Hoje, do sono acordado).
A Evolução do Homem persiste, nada a deterá, embora, como disse, sob novos critérios selectivos, desligados da original Selecção Natural, que fluem sobre vagas em voga, nas vontades à tona de marés baixas, fragilizantes da condição, identidade e consciência humanas, porque desconectadas do mundo de fora, desse mundo, nascido há 4,5 biliões de anos, real e concreto.
Imaginamos, consequentemente, cada vez mais o que vemos.
Como resultado deste novo (des) conhecimento, desta nova Selecção, eis-nos perante um Homem Novo, desenhado às escuras, à revelia, do Ser natural, tomando como real, necessidades virtuais, misturando o que é com o que imagina ser , ou com o que gostava que fosse.
A civilização, a ciência têm inequivocamente diminuído a dependência do Homem, da Selecção Natural, tendo, por outro lado, incontestavelmente, aumentado, sobre ele, a Pressão Selectiva Artificial /Cultural /Ideológica. Considerando que as instituições culturais são, na maioria das vezes, invenções, representações inexactas do natural, quando não tentativas de fuga sem direcção de uma realidade sem sentido, a cultura moderna leva-nos a um labirinto existencial, teleológico e ontológico (atente-se no movimento transgénero, por exemplo) porque, conseguindo convencer-nos sobre o que não somos, não consegue explicar-nos quem somos.
Julgo haver aqui motivo para várias questões:
Em termos de contribuição para o fortalecimento da nossa capacidade adaptativa, será melhor a pressão crua da verdade (a da Selecção Natural), ou aquela delirante, anestesiante, quando não grotesca, da Selecção Artificial? A resposta surge-me evidente.
Nessa fuga existencial, do natural, para o artificial, criámos novas mitologias, para que mais fácil nos fosse crer na fantasia inventada, tornando mais verosímil a mentira contada.
Tristemente, passámos a acreditar mais no que sabemos não ser, ao compreendemos cada vez menos, julgando cada vez mais.
Ouçamos o admirável homem, desse mundo novo, adaptado, esculpido na promessa das suas depressões selectivas:
"Nunca sentiu o bolso vibrar, como se tivesse recebido uma chamada ou uma mensagem, para depois descobrir que era um falso alarme? Os especialistas chamam-lhe nomofobia, o medo de ficar sem telemóvel. Quase metade dos utilizadores admitem que já não conseguem imaginar uma vida sem ele".
A alegria de hoje, um exorcismo de choro.