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Delito de Opinião

Passos Coelho e o erro de Piaget

Rui Rocha, 23.09.14

Regressemos então a Piaget e aos seus estudos sobre o sentido moral nas crianças, submetendo-os a nova análise à luz de factos recentes. De acordo com o epistemólogo suiço, no primeiro estádio de desenvolvimento, até aos 2 anos, a criança não é capaz de perceber a existência da moral e não tem a capacidade para fazer julgamentos (anomia). A partir dos 2 anos, a criança já é capaz de conformar-se e agir de acordo com regras. Mas a moral é heterónoma. A criança precisa que alguém, uma autoridade, lhe diga o que está certo e errado. A partir dos 12 anos a criança passa por um conjunto amplo de transformações e passa a ser denominada de adolescente. É o período em que deve chegar ao estágio cognitivo denominado operatório-formal, no qual se torna apta a alcançar o estádio do raciocínio moral denominado autonomia. Ao alcançar o estádio da autonomia, o indivíduo torna-se responsável por suas própria escolhas, que passam a ser avaliadas de acordo com um referencial interno e não pela imposição de terceiros. É claro que as idades de transição entre estádios identificadas por Piaget teriam sempre de ser entendidas como meramente indicativas e dependentes, obviamente, da maturidade de cada um. Mas uma coisa é uma variação de meses, outra coisa é um desvio de décadas. Tomemos então o caso de Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de um país da Europa dita civilizada. De acordo com informações não desmentidas, precisa, aos 50 anos de idade, da intervenção de uma autoridade (no caso, a Procuradoria-Geral da República) para esclarecer se agiu bem ou mal no caso das remunerações eventualmente recebidas da Tecnoforma. Ora convenhamos: se Piaget não estivesse completamente errado, Passos Coelho deveria ter abandonado, no mínimo há um bom par de anos, a fase da heteronomia.

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