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Delito de Opinião

Parolismo: os cemitérios de Lisboa

jpt, 25.04.19

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(Cemitério do Alto de São João, Lisboa. Foto do blog 100 Anos, 100 Árvores)

 

Sabe-se que o cientista e ministro Augusto Santos Silva considera um extremo "parolismo" aludir ao viçoso feixe de relações familiares dos dirigentes do PS aboletado na administração pública. Mas fica-se "parolo" quando se vai conhecendo o rosário de despautérios dessa elite partidária. O que se passa é nitidamente a consagração do ideário "O Estado somos nós", corrupta corruptela de bem antigas (e absolutistas) concepções do exercício político.

A descrição do Expresso da  última sessão pública da Câmara de Lisboa mostra o putrefacto a que isto chegou, até pelo lado risível da questão: Fernando Medina, que tão falado foi há anos como mais-que-provável sucessor de Costa na liderança do seu partido, a propor um protocolo (financiador) da CML com uma Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa, esta animada em desenvolver actividades culturais em torno dos cemitérios - no que será, de facto, uma sub-contratação para o desempenho de actividades culturais, contornando os serviços camarários especializados nessa área (nos quais existe, pelo menos, uma empresa municipal, a EGEAC). E a qual já recebeu financiamento (parcos 10 000 euros, que dará para pouca coisa, como é óbvio), ainda sem protocolo que se veja.

O Expresso conta: da atrapalhação de Medina, o tal putativo futuro primeiro-ministro, a querer encerrar a apresentação do protocolo, pois a aprovação, afinal, não estava para passar sem debate (quem vai discutir contra quem quer o "bem dos cemitérios" e dos mortos que lá habitam no seu repouso eterno?). E de como o vereador do PSD desfiou o rol de parentes (e confrades) da elite partidária do PS que se aprestam, com total impudicícia, para sacar do orçamento municipal, a propósito de arranjos fúnebres. Aqui cito esse rol, em cúmulo de parolismo, para desgosto de Augusto Santos Silva, ministro de Sócrates&Costa: os órgãos da tal lúgubre associação com "fins culturais" são compostos, decerto que entre outra gente da mesma igualha, por "Jorge Ferreira, fotógrafo de campanhas do PS e de eventos da Junta de Freguesia do Lumiar; Pedro Almeida, funcionário do PS no Parlamento; Inês César, sobrinha de Carlos César; a sua mãe, Patrocínia Vale César (deputada municipal do PS) e o seu pai, Horácio Vale César (irmão de Carlos César e ex-assessor de João Soares quando ele foi ministro da Cultura); João Soares; Diogo Leão, deputado do PS; Filipa Brigola, assessora do grupo parlamentar do PS.". Isto é mais do que óbvio, alguém se lembrou que havia aqui uma área para sacar taco à câmara, juntou a rapaziada, têm os contactos certos (o "eterno" Sá Fernandes lá estava para os elogiar) com Medina e sus muchachos. Assina-se o protocolo, fazem-se umas "cenas", ganham-se umas massas, e nisso até se dão uns trabalhos a uns "sobrinhos" que andem um bocado desvalidos, e se calhar uns textos (pagos) a escrever a um desses painelistas socratistas que vão à TV. Uma mão lava a outra, ambas coçam as remelas e ainda se escarafuncham as narinas.

E isto tudo se passa a um mês das eleições, e quando fervilha na opinião pública e na imprensa a questão dos parentes socialistas nos postos estatais. A um mês das eleições! Esta gente, a elite PS, está sem qualquer tino. Em verdadeira roda livre.

E nós, que em breve habitaremos os cemitérios deles, somos "parolos".

Adenda: encontro o filme da sessão. Veja-se a cara de Medina, notoriamente atrapalhado, depois de ter tentado adiar a questão, diante do eleito do PSD - que pergunta, letal, ao BE se se revê neste lóbi familiar - enquanto este desvenda o rol de socialistas metidos nesta marosca:

 

 

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