Para que se preserve a minha sanidade, peço encarecidamente...
Tenho andado a preparar-me mentalmente para resistir aos disparates e alarvidades que vou ler e ouvir nos próximos dias sobre as eleições legislativas húngaras, que se realizam no domingo. Para que se preserve a minha sanidade mental, peço a todos os que quiserem escrever sobre o assunto que, por favor, não tratem o senhor George Soros por milionário filantropo e benemérito, mas por aquilo que ele é, financeiro e especulador. Peço por favor que não considerem o Jobbik como mais um partido democrático, mas que o definam como partido de extrema-direita, anti-semita e anti-cigano. Peço por favor a todos os que quiserem escrever sobre este assunto que não considerem o MSzP como um simples partido socialista, mas como o herdeiro do antigo partido único e actualmente baluarte do pós-comunismo. Peço também a todos os analistas que admitam por um instante os bons resultados económicos do governo do Fidesz, o carácter liberal da economia, o desemprego mínimo e a situação muito razoável da classe média. E, por favor, não escrevam que as fronteiras estão seladas, pois no ano passado, mais de três mil migrantes pediram asilo, dos quais mil conseguiram estatuto de refugiado. Considerem por um instante que a explicação para a vitória mais que provável do governo se deverá não à falta de democracia, mas à falta de oposição credível. Grande parte da crise política está nos socialistas, que não se livram do código genético da era comunista e que chegam a admitir aliar-se ao Jobbik para governar (a geringonça ao quadrado). Admitam por um segundo que o PM Viktor Orbán é um excelente orador e político carismático, genuinamente popular, que conquistou a direita e o centro eleitoral: provavelmente, só quando o seu partido se dividir em dois haverá verdadeira oposição e acredito que isso possa acontecer nos próximos quatro anos. Por favor, não repitam a asneira do governo ser anti-europeu ou de não haver instituições e liberdade de imprensa. Não insistam na lenda absurda de Orbán ser pró-Putin e rejeitem as interpretações parvas que comparam a Hungria com o regime turco ou com a Rússia. Tentem compreender a amizade da Hungria com a Polónia, que é um velho assunto, e procurem entender que são antigas muitas das coisas que ali se passam.