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Delito de Opinião

Para inglês ver

Paulo Sousa, 16.04.21

Ontem ouvi um relato de um telefonema feito por um responsável de uma escola pública, dirigido ao encarregado de educação de um aluno com fraco aproveitamento escolar. Ao referido encarregado de educação foi proposto que dada a situação – entenda-se o perfil do aluno – se ele aceitava que o seu educando participasse nos exames nacionais como sendo aluno externo, evitando assim de prejudicar o ranking da escola.

Lamentavelmente o receptor da chamada não respondeu que aceitaria desde que a proposta fosse feita por escrito, e simplesmente declinou a ideia.

Umas horas mais tarde trouxe esse episódio à conversa com uma pessoa amiga reformada do ensino, e a reacção foi quase como de um encolher de ombros. Sim, essas coisas acontecem.

Lembrei-me de imediato da repetida ladainha de alguns professores que explicam os maus comportamentos de alguns alunos com as deficiências educacionais que estes trazem de casa. Será que podemos perguntar qual a referência moral que uma escola dá aos seus alunos, quando faz uma proposta destas?

Tentando ignorar a vertente ética de tudo isto, podemos dizer que o nosso atraso crónico resulta também desta menorização e desprezo da realidade. Prefere-se de longe as aparências e por elas vale sempre a pena maltratar umas estatísticas e arrendondar umas esquinas.

Depois de tentar arredar tudo isto do meu espírito, soube que o nosso PM quer mudar o modelo de contagem de casos COVID, para poupar o turismo no Algarve.

A atitude retratada pela expressão que dá o título a este postal, e que ganhou forma durante o domínio inglês do nosso país, no início do sec. XIX, faz realmente parte da nossa forma de estar na vida.

A leviandade com que enganamos os nossos compatriotas faz parecer que estamos mesmo convictos de que não nos estamos a enganar a nós próprios.

4 comentários

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    Anónimo 16.04.2021

    'oito valores no ano do exame e média de dez ou onze do ano anterior'
    Quais são as orientações que estão por trás da norma de levar a exame um aluno com oito valores?
    Isso é que dá que pensar.
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    Manuel da Rocha 16.04.2021

    Corrigir problemas com os currículos.
    Em 1995 (ano que ficou destruído depois de decisões HORRÍVEIS PARA O ENSINO PÚBLICO POR PARTE DE MANUELA FERREIRA LEITE, ministra da educação, como vingança de as sondagens darem a derrota do seu partido nas legislativas desse ano, criou um sistema que dava 99% de certeza que em 100 alunos com notas de acesso à universidade, 97 eram do ensino privado), fui ao exame nacional de Português B, com média de 9,66 (10-8-11). No exame tirei 14,6. Pessoas que entraram com 18 tiraram 6, tudo porque a composição era sobre um tema abstracto em que era dada liberdade, desde que cumprissem as regras, 9 em cada 10 não conseguiram cumprir a limitação de palavras e parágrafos apresentada.
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    Anónimo 16.04.2021

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