Pacheco, Rio e o ódio a Passos
Faça-se justiça a Pacheco Pereira: ele continua a criticar sem desfalecimentos o governo. Mas não este: o governo que ele ataca com vigor é o de Passos Coelho. Com aquela gravitas que sempre demonstra mesmo quando abre a boca para dizer que amanhã vai estar de chuva.
Na última Circulatura do Quadrado de 2020, como se estivesse em 2015, o famoso historiador da Marmeleira debitou isto:
«Desde os anos de governo de Passos Coelho que se assistiu a uma enorme deslocação à direita da vida pública portuguesa em certas áreas. Essa deslocação ainda hoje não desapareceu. Ela manifesta-se sob muitos aspectos: manifesta-se na análise económica, na análise social, também na linguagem. (...) Esta degradação da linguagem é má para a democracia. Porque, entre outras coisas, acaba com o centro e com a moderação.»
E isto:
«Quem foi o governo que em Portugal mais atacou os velhos, chamando-lhes "peste grisalha" e defendendo a chamada "justiça geracional", que era tirar reformas e pensões aos mais velhos?»
E mais isto:
«O radicalismo da linguagem à direita tem uma história nos últimos dez anos em Portugal e tem a ver, evidentemente, com deslocações políticas nas quais o PSD teve uma grande responsabilidade.»
E ainda isto:
«As pessoas agora têm esta nostalgia do Pedro Passos Coelho. Esquecem-se de que quando o Pedro Passos Coelho abandonou a direcção do PSD os resultados nas sondagens eram muito maus.»
Plena militância anti-governo, pois. O governo de coligação PSD/CDS, finado há mais de cinco anos, mas que ele teima em enfrentar com intrepidez e denodo, imitando os antigos combatentes nipónicos infiltrados na selva filipina que continuavam a pelejar pelo imperador Hirohito várias décadas após o armistício de 1945.
Manso perante António Costa e furibundo ad aeternum com o presidente do partido que conduziu os sociais-democratas às duas últimas vitórias em legislativas: este homem é um dos mais influentes conselheiros políticos de Rui Rio, o que explica o naufrágio do PSD, patente de sondagem em sondagem.
A luta continua. A derrota é certa.