Os votos que não servem para nada
A divisão dos círculos eleitorais com base nos velhos distritos que hoje não servem para mais nada é uma aberração que se mantém apenas devido à inércia total das duas principais forças políticas. Dá-lhes jeito que tudo continue assim: ganham uns deputados extra.
O mapa eleitoral português devia ser redesenhado para se adaptar ao novo milénio em que vivemos. E prever um círculo nacional de compensação, aliás segundo o que já vigora na Região Autónoma dos Açores.
Isto poria fim a uma chocante realidade: nas legislativas de 10 de Março, cerca de um milhão e duzentos mil votos foram desperdiçados. Isto é, não serviram para eleger ninguém. O número mais elevado de sempre. Devia fazer soar todas as campainhas de alarme: nada põe tanto em risco a democracia como isto.
Antiga sede do Governo Civil do Porto
Alterar esta anomalia devia ser prioridade absoluta. Mas não admira que tudo vá permanecendo sem mudança alguma. Foi preciso a tróica instaurar cá o seu protectorado, chamada por José Sócrates e Teixeira dos Santos, para o governo seguinte pôr fim a outro anacronismo que esteve inalterado durante décadas: os governos civis.
Apesar da sua manifesta inutilidade, quando foram extintos desatou imensa gente aos gritos, como se aquilo fizesse alguma falta.
Comprova-se a natureza profundamente anti-reformista, imobilista e reaccionária de grande parte da classe política deste país.
Sem excluir, claro, aqueles que enchem a boca a falar em progresso e tudo fazem para que haja estagnação ou mesmo retrocesso. Às vezes os piores são esses.