Os "príncipes dos povos"
Um príncipe decidiu ("deu-lhe para...") reencarnar um seu pouco fiável antepassado e nisso casou com uma actriz estrangeira de terceira ordem, uma "corista de Paris" teria dito no seu tempo o velho Eduardo VII, o do nosso Parque, que sabia bem desse assunto... O "contexto" é quase tudo, os tempos mudam, as (muitas) décadas passam, e nisso as consciências e as barreiras sociais - mas ainda assim não é só isso que aparta este caso de um já nada recente casamento entre um obscuro príncipe de um minúsculo grão-ducado, mero paraíso fiscal feito recanto de veraneio e casinos, com a estrela de aspecto mais angélico de Hollywood, oriunda de família abonada e conservadora... E os locais, o tal "contexto", não são todos iguais, e como tal isto não tem o mesmo impacto simbólico de uma matrona viúva de uma silenciosa monarquia burguesa escandinava se casar agora com um gabiru norte-americano, de profissão xamã e o qual se diz reencarnação de príncipes africanos seus antepassados, um típico vetusto delírio new age...
Pois tudo isto se passou na monarquia europeia mais hierática - apesar do seu "compromisso histórico" com a pujante imprensa mundana, gerido com sábio, ainda que por vezes falho, músculo -, onde reinava a monarca mais prestigiada e porventura, até independentemente dos seus méritos pessoais, a chefe de Estado mais reverenciada do mundo. Tudo isto onde se amontoam os restos, até algo putrefactos, do maior império do mundo. Ou seja, não haveria melhor contexto para a sofreguidão mediática, ansiosa da (re)emergência de uns "príncipes dos povos", ainda por cima condimentados pelo picante "multicultural"...
A rota que seguiriam era óbvia - até para um desatento republicano meridional. O gemebundo casal encetou o destrunfar alheio com a ansiada "Carta Racial", valiosíssima nos tempos que correm, e nisso teve imediato sucesso - tanto que até lá da Casa Branca Biden fez constar o seu apoio por "tamanha coragem"... Os britânicos, e sua realeza, metidos na armada Brexit e na esperança de serem o mais dilecto aliado (ou mesmo qual o 51º membro), aguentaram o despautério do pós-Trump, assim em afronta alheada das relações internacionais.
Entretanto o jogo suspendeu-se um pouco, dada a morte da célebre avó das vítimas. Agora, para gáudio mundial, reiniciou-se o cartear. Em momento a solo o candidato a "príncipe do povo mundial" enceta a jogatana anunciando-se "caçador de afegãos", movimento algo paradoxal que até aos activistas apoiantes confundiu. Ao qual se segue uma panóplia de apostas cujos cabeçalhos fazem os referidos apoiantes duvidar da sua pertinência estratégica. Nem mesmo Biden lhe acorre. E em torno da mesa de jogo sussurra-se "mais valia ter insistido na carta racial", um "valor seguro"...
Enfim, qual será o próximo, e terceiro, passo? Na sala já correm as apostas...