Os populistas
O Podemos mostrou hoje a sua força em Madrid, numa marcha que atraiu uma multidão. À frente em várias sondagens, a poucos meses das legislativas, o novo partido não é apenas um protesto resultante da frustração dos espanhóis com a crise, mas uma revolução no sistema político. Há diferenças entre Podemos e Syriza, mas um elemento em comum: ambos absorveram o eleitorado comunista e estão a conquistar o espaço político dos socialistas. Na Grécia, as primeiras vítimas foram PASOK e KKE, que em 2009 somaram mais de metade do eleitorado grego e agora têm apenas 9,5% (somados). Em Espanha, a IU ameaça implodir e o PSOE surge nas sondagens em terceiro lugar, com uma votação muito inferior aos valores tradicionais.
Sem experiência de governação, os políticos de protesto apostam na retórica e nas fórmulas simples para resolver os problemas. Estas pessoas parecem muito diferentes do que a lamentável classe política que presidiu aos anos da Grande Recessão. O Syriza está a tentar uma ruptura com a União Europeia, enquanto o Podemos, mais cerebral, centra o seu programa no combate à corrupção. As eleições gregas sugerem que a franja mais à esquerda do sistema partidário está a sofrer uma convulsão inédita. O eleitorado de esquerda parece recusar as posições tradicionais de comunistas e socialistas, preferindo o tom mais utópico das novas formações populistas, que não hesitam em culpar a Europa pelas dificuldades, propondo soluções nacionais.
Em Portugal, comentadores de esquerda estão já a adoptar estes temas, atribuindo todos os problemas à adesão europeia. Segundo dizem, o país empobreceu (é extraordinário que culpem a Europa, mas é isso que está a acontecer nos espaços de debate público) e perdeu margem de manobra. Para além de imaginar uma UE que nunca existiu, esta elite continua a ignorar o que nos levou à falência e ao resgate.
Há duas formas dos movimentos populistas conseguirem engolir a esquerda: formando novos partidos que cilindrem os existentes ou conquistando os que existem. A primeira forma parece ter falhado em Portugal, a segunda está em marcha.