Os novos censores andam aí (5)
John William Waterhouse (1849-1917), pintor que esteve em voga na Inglaterra vitoriana, certamente nunca imaginou que um óleo da sua autoria, pintado em 1896, viria a causar tanta celeuma cento e vinte e dois anos mais tarde, nestes dias de neopuritanismo pseudo-feminista em que vivemos.
Hilas e as Ninfas acaba de conhecer súbita celebridade graças ao ímpeto censório de Clare Canneway, a conservadora (palavra apropriadíssima) da Galeria de Arte de Manchester - museu público instalado numa cidade de sólidas tradições liberais, hoje cada vez mais comprometidas.
A virtuosa senhora ordenou a remoção do quadro, onde se vislumbram sete jovens em topless. Motivo invocado: a maléfica pintura promoverá a "coisificação do corpo da mulher", algo que faz tremer a horrorizada conservadora, dizendo-se envergonhada "por não ter tratado deste assunto mais cedo".
A polémica não tardou no espaço mediático, forçando as autoridades municipais a devolver a tela à maculada parede. Mas a controvérsia continua. "Vivemos um pesadelo vivo com tanta correcção política, histórica e artística", alarma-se Rachel Johnson no Mail on Sunday. Jonathan Jones, crítico de arte do Guardian, inquieta-se com este surto de pudicícia: "O próximo será Picasso?"
Não é preciso dar-lhes ideias: as novas brigadas censórias permanecem vigilantes.