Os nomes dos reis portugueses
Afonso, João e Pedro: assim se chamaram metade dos monarcas


D. João II (1481-1495) e D. Pedro V (1853-1861) em notas de banco: dois reis muito populares
Em quase 800 anos, Portugal teve 34 reis. Trinta e dois titulares e dois monarcas consortes - casados com as rainhas que asseguravam a chefia do Estado, primeiro Maria Francisca (1777-1816), depois Maria da Glória (1834-1853).
Mas de rainhas falarei noutro dia. Hoje interessa-me mencionar nomes masculinos. E anotar que bastaram três deles para crismar metade dos nossos reis. Houve seis Afonsos (nos séculos XII, XIII, XIV, XV e XVII). João, outros seis (séculos XIV, XV, XVI, XVII, XVIII e XIX). E cinco Pedros (séculos XIV, XVII, XVIII e XIX).
Seguiram-se os três Filipes durante a união dinástica, entre 1580 e 1640, com o nosso país submetido à soberania castelhana.
Três outros nomes surgem em duplicado. Houve dois Sanchos (séculos XII e XIII), dois Fernandos (séculos XIV e XIX) e dois Manuéis (séculos XV-XVI e XX).
A lista completa-se com estes oito: Dinis (1279-1325), Duarte (1433-1438), Sebastião (1557-1578), Henrique (1578-1580), José (1750-1777), Miguel (1828-1834), Luís (1861-1889) e Carlos (1889-1908).
Foi quanto bastou. Pode concluir-se que quase todos estes nomes continuam muito populares entre os portugueses. A excepção será Sancho, agora menos frequente. Mas João, Duarte, Afonso e Miguel incluem-se entre os dez ainda hoje mais escolhidos (os outros são Francisco, Lourenço, Vicente, Tomás, Gabriel e Santiago).
Dos 34, quatro eram estrangeiros. Os Filipes, naturalmente - embora Filipe I (1580-1598), em estrito rigor, fosse luso-flamengo-espanhol: seu pai, o imperador romano-germânico Carlos V, era natural da Flandres e sua mãe, D. Isabel, foi a primeira filha do nosso D. Manuel I. Chegou a ser considerada a mais bela mulher do seu tempo.
Sophia de Mello Breyner alude a ela num célebre poema, "Meditação do Duque de Gándia sobre a Morte de Isabel de Portugal": «Nunca mais / A tua face será pura limpa e viva / Nem o teu andar como onda fugitiva / Se poderá nos passos tecer. / E nunca mais darei ao tempo a minha vida.»
Embora natural de Valladolid, o primeiro Filipe teve o nosso idioma como língua materna e viveu dois anos em Portugal (1581-1583). Seu filho e neto homónimos mantiveram uma relação muito mais fria e distante com o reino lusitano.
O quarto estrangeiro que se sentou no trono português era austríaco: D. Fernando II. Obteve o título de príncipe real ao casar-se aos 19 anos com a Rainha D. Maria II, em 1836, sendo designado Rei no ano seguinte, ao nascer o primogénito do casal, futuro D. Pedro V. Foi um genuíno português de adopção, tendo deixado bem claro o seu amor ao nosso país nas mais diversas circunstâncias até falecer, aos 69 anos, em 1885.
Poderia ter havido monarcas portugueses com outros nomes?
Pelo menos dois.
D. Jorge (1481-1550), filho bastardo de D. João II. O pai sonhou vê-lo no trono mal ocorreu a trágica morte do herdeiro legítimo, o príncipe D. Afonso, em 1491, com apenas 16 anos. Mas a Rainha viúva, D. Leonor, impediu tal sucessão: seria o seu irmão, D. Manuel I, a suceder ao Príncipe Perfeito.
D. Teodósio (1634-1653), Príncipe do Brasil - título criado em sua honra. Era o primogénito de D. João IV, tendo sido educado para suceder ao pai. A sua morte prematura, com apenas 19 anos, impediu tal desígnio. O que seria trágico não apenas para a família, mas para Portugal: Afonso VI, o monarca seguinte, era mentalmente incapaz e acabou por ser destituído de funções.
Mas a História é o que é, não aquilo que gostaríamos que fosse.

