Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Os labirintos da memória

Pedro Correia, 11.10.14

imagem[1].jpg

Não sei se convosco acontecem coisas destas. Na quinta-feira, quando soube que o escritor francês Patrick Modiano era o vencedor do Nobel, lembrei-me logo que tinha uma obra dele: Domingos de Agosto, editada pela D. Quixote, na sua efémera colecção de livros de bolso.

Ao chegar a casa, e como tenho a biblioteca arrumada, fui logo direito ao livro disposto a lê-lo nos próximos dias. Lá estava a anotação inicial: comprei-o a 27 de Maio de 2000 (certamente na Feira do Livro, por coincidir com a data). A surpresa aconteceu ao espreitar a última página, onde vinha outra inscrição: 11 de Junho de 2000. A data em que terminei de lê-lo, duas semanas depois de o ter comprado.

Lembro-me perfeitamente de livros que li muito antes deste. Acontece que nada retive desta obra. Nada mesmo. Irei (re)lê-la como se fosse a primeira vez. Certamente sem dificuldade, até porque só tem 160 páginas.

Gosto de sublinhar um livro que vou lendo. Quando isso não acontece é sinal inequívoco de que a leitura não está a impressionar-me. Folheio este exemplar e verifico: tem apenas dois sublinhados.

Um na página 33: «É da Primavera que eu tenho medo. Chega sempre como uma vaga de fundo, e eu pergunto-me sempre se não vou desequilibrar-me e sair borda fora.»

Outro na página 107: «Porque é que certas pessoas são como as pastilhas elásticas que em vão tentamos desprender dos saltos dos sapatos, esfragando-os na borda de um passeio?»

Foi uma leitura tão etérea que passou por mim sem deixar rasto. Ao contrário da pastilha elástica mencionada no parágrafo anterior. Já conhecia, portanto, Patrick Modiano. Mas na quinta-feira recebi a notícia do Nobel como se nunca me tivesse sido apresentado.

64 comentários

Comentar post