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Delito de Opinião

Os estranhos

Luís Naves, 30.07.24

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O Ocidente mergulhou num tempo de desordem, as elites estão a perder o pé e o modelo capitalista em vigor não parece sustentável. Guerras, migrações, mudanças tecnológicas demasiado rápidas, a destruição dos recursos, o empobrecimento acelerado de muita gente e o enriquecimento pornográfico dos magnatas, tudo isso contribuiu para criar incerteza, mas há um fenómeno que ameaça acelerar a decomposição social: a marginalização crescente de uma parte do eleitorado. Geralmente, estas pessoas não têm representação nas notícias nem poder financeiro, não estão na cultura e no activismo mediático, nas academias, nos debates da TV. A verdadeira desordem é esta separação mental de grupos que se hostilizam usando linguagens opostas, sem base de entendimento entre gente que não acredita pertencer ao mesmo país. Há uma rivalidade tribal: um lado não escuta, o outro tem dificuldade em falar. A democracia recua quando uma das partes se coloca num plano moral superior e, usando o seu domínio mediático, lança anátemas sobre os milhões que não sabem votar. São rurais, fascistas, pouco qualificados. Pode parecer paradoxal, mas as classes trabalhadoras continuam a ser desprezadas pela burguesia triunfante, embora a clivagem, agora, divida a sociedade ao meio. Na América surgiu um novo termo para estes membros das massas ignorantes que se inclinam para Trump, os 'weird', os estranhos, esquisitos, incompreensíveis; no fundo, pessoas diferentes, cujas opiniões não devem ser consideradas.

imagem gerada por IA, Night Cafe

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