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Delito de Opinião

Os críticos que odeiam cinema

Pedro Correia, 01.02.17

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 La La Land, de Damien Chazelle

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 Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan

 

Há um género de críticos de cinema imensamente elitistas que no limite adorariam não encontrar ninguém numa sala. Por isso desaconselham fortemente as pessoas a ver filmes.

Estes críticos são todos homens (questiono-me por que motivo, num tempo em que a igualdade de género e a paridade são bandeiras sempre desfraldadas, a crítica de cinema continua a ser uma coutada masculina). Só atribuem cinco estrelas a alguns filmes portugueses e franceses, imunes à menor contaminação do chamado cinema “comercial”. Se pressentem que as películas podem atrair público, ei-los a desancá-las com bolas pretas ou uma estrelinha (em cinco). Nos casos limite, nem sequer se dão ao incómodo de visualizá-las, o que constitui a mais aberrante demonstração de elitismo: já sabem que não gostam mesmo sem necessidade de ver.

Vem isto a propósito da classificação atribuída pelos críticos do jornal Público a dois excelentes filmes que vi nos últimos dias e vivamente recomendo aos meus leitores sem precisar do aval de crítico algum: Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan, e La La Land – Melodia de Amor, de Damien Chazelle. O primeiro é um fabuloso melodrama, o segundo é uma vibrante homenagem aos musicais da época áurea de Hollywood. Estão nomeados para as principais categorias dos Óscares: melhor filme, melhor realização, melhores interpretações. Ambos funcionam como demonstração viva de que a tão propalada crise do cinema não passa de um mito: a Sétima Arte está bem e recomenda-se.

Isto devia ser uma boa notícia para todos os amantes de filmes. Receio, no entanto, que os tais críticos elitistas não se incluam nesta categoria: porque eles não gostam de celebrar a festa do cinema nem de se misturar com o povoléu nos espaços comerciais onde se projectam filmes. Longa-metragem boa, para eles, é apenas a que afugenta os espectadores.

Críticos como os tais do Público, sobretudo dois deles: Luís M. Oliveira arrasa La La Land com uma estrela e não concede mais de duas a Manchester By the Sea. O seu colega Vasco Câmara vai ainda mais longe, atribuindo uma estrelinha a cada película. O que significa uma estrela? “Medíocre”, segundo a chave de leitura que o jornal fornece.

Pudessem eles vedar-nos a entrada nas salas de espectáculo e certamente não hesitariam. Sem pensarem sequer que, se o conselho deles fosse escutado, lá teriam de encontrar uma ocupação alternativa. Porque um mundo sem cinema seria um mundo que os excluiria. Sem distribuição cinematográfica, sem receita de bilheteira, com todas as salas encerradas por absoluta falta de espectadores, para que serviria um crítico?

 

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7 comentários

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    Pedro Correia 01.02.2017

    De facto, vem mesmo a propósito. Mas a "crítica", por cá, reage ao retardador.
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    sampy 01.02.2017

    Receio não me ter feito entender.

    A acusação de elitismo feita por Pedro Correia, há quem a faria ao próprio Pedro Correia.
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    Luís Lavoura 01.02.2017

    A acusação de elitismo feita por Pedro Correia, há quem a faria ao próprio Pedro Correia.

    Ora bem.

    Na questão da ortografia da língua portuguesa, o Pedro Correia toma uma posição elitista. Defende explicitamente que quem determina como a língua deve ser escrita devem ser as elites (os escritores de romances) e não o povo ignaro. A ortografia deve ser feita para preservar um alegado étimo que só as elites conhecem, não para reproduzir a forma como a gente vulgar fala.
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    V. 01.02.2017

    Exacto. Mas não é por elitismo: É para que quem não sabe Português e não sabe pensar possa aprender e elevar-se da lama pastosa e indistinta a que o socialismo os condena. As referências etimológicas são parte integrante e ligam-nos à tradição europeia — que vocês querem destruir, a gente sabe. Mas não vamos deixar. Até porque vocês com esses excessos estão a criar a próxima vaga de extrema-direita na Europa.
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    Einstürzende Neubauten 02.02.2017

    O V, prova o contrário. Fala bem, mas pensa mal. Para si , pela cor, até a Hematúria é uma gaja socialista.
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    V. 02.02.2017

    Veremos quem tem razão.
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