Os comentários da semana
«Como criar um país decente e mais rico se quase ninguém está disposto a cumprir? Quando os candidatos a emprego começam por pesar o número de faltas que podem dar e uma vez a trabalhar ficam completamente alheados do seu real peso na estrutura. E a ridícula ascensão das chefias não por mérito – por saberem do ofício – mas por serem detentoras do que chamam perfil de liderança, que como sabemos entre nós se traduz numa de duas coisas: cunha ou parlapiê inconsequente. Patrões a ver os funcionários apenas como encargo, não os reconhecendo como aliados, nem considerando o rendimento que dão às empresas. E a pagar mal, muito mal. Um Estado que esmaga a possibilidade de crescimento sadio das empresas com impostos e burocracias excessivas. Camadas e camadas de funcionários públicos com baixas médicas fraudulentas e outros benefícios a enviesar completamente os dados sobre as reais necessidades do sector público. E, a propósito, uma comunicação social – bacoca e ideologicamente comprometida - que raramente fala escorreito e a direito. Um sindicalismo caduco. E, mais do que tudo, injusto e virado somente para o seu eleitorado. Protegendo apenas a função pública e um punhado de gente na grande indústria.
Enfim, está tudo mal. Mas se não fosse a maldita epidemia podíamos ir para a praia espairecer. Como diz o outro, o que é preciso é saber como se melhora. E só vejo uma maneira. Sendo mais honesto. Resta saber se o País está para aí virado.»
Da nossa leitora Isabel Paulos. A propósito deste meu texto.
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«Convém não esquecer que a velha Europa é mais velha para uns do que para outros. Em termos de mentalidade proteccionista do sistema social, os países do sul são-no em maior dose. Quando digo dose, refiro-me ao facto de exercer o dever de protecção, exigindo pouco ou nada em troca. Não se admite na Noruega que um cidadão que usufrui de um subsídio de desemprego rejeite uma proposta para trabalhar, sem consequências. Não se admite que um cidadão na Holanda resida numa habitação social, sem a obrigação de cuidar da mesma, de cumprir as regras de higiene comunitária, higiene dos filhos, obrigatoriedade de os mandar para a escola. Ou seja, na Europa menos velha, os direitos equilibram-se com os deveres. Na Europa mais velha, dá-se gratuitamente, sem tão pouco se preocuparem com a importância pedagógica da vida em sociedade. E lá estamos nós a bater na mentalidade. Porque esta mentalidade de dar sem exigir é transversal em todas as áreas: habitação, educação e trabalho.
Nas sociedades novas não se nota tanto, tiveram a possibilidade de começar do zero. Cansados do que levaram do velho continente. Não quero com isto que é melhor, ou pior, mas é diferente.
E a grande diferença está nos costumes e na valorização.
Com a evolução da mentalidade sindicalista, verificou-se que, 20 anos depois, havia mais gente a acabar o liceu, a entrar para as universidades, que se multiplicaram na década de 70, fruto da capacidade financeira das famílias. Aumentou a criação de emprego próprio, o operário passou a ter formação e dinheiro para se lançar no mercado. Isto criou emprego, riqueza. O mérito passou a ser reconhecido e recompensado. O patrão passou a valorizar o empregado e o empregado passou a empenhar-se mais. O emprego deixou de ser um lugar cativo, foi necessário justificá-lo.
O pobre passou a ter a oportunidade de enriquecer, fruto do seu trabalho e da sua capacidade.
Por cá, o rico já nasce rico, raramente se torna rico. Primeiro porque não se valoriza, depois porque não vale a pena valorizar-se, pois mesmo que tenha valor, ninguém o vai reconhecer.»
Do nosso leitor Chuck Norris. A propósito deste meu texto.