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Delito de Opinião

Os comentários da semana

Pedro Correia, 01.09.19

 

«Estranha mania esta, muito nossa, de só vermos o alto quanto mais em baixo nos encontramos. Como se para tocarmos no cume necessitássemos do embalo do precipício. O sol radiante torna-se com o tempo ofuscante, entendiante. Necessitamos da trovoada, da noite cerrada para voltarmos a sentir a falta. A vida fácil entorpece, faz coxear a vontade. Olho, impassível, o horizonte em busca do tonitruante vulcão. Apenas quando só, e à beira do abismo, sinto a bicada da vida.»

 

Do nosso leitor Vorph Valknut. A propósito deste texto do Luís Naves.

 

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«Se escrevesse hoje, provavelmente não teria quem o publicasse. E todavia, é em Aquilino que melhor se vê descrito o Portugal e os portugueses da primeira metade do século XX e, diria até, das idiossincrasias e atavismos que definem a nossa identidade colectiva e vão bem além dessas poucas décadas, tanto na direcção do passado como do futuro.
Lendo o seu post, recordei um trecho de Saramago que li há algumas semanas no Último Caderno de Lanzarote, onde se refere a Aquilino como "penhasco solitário e enorme, que irrompeu do chão no meio da álea principal da nossa florida e não raro delisquescente literatura da primeira metade do século". Depois continua reflectindo sobre a memória dos portugueses e de como o aparente esquecimento a que Aquilino parece votado é um sinal da abdicação colectiva das nossas referências culturais e da cedência a uma "pacóvia bebedeira de modernice", isto é, uma espécie de colonização cultural que nos levará ao esquecimento de nós mesmos, daquilo que nos define e condensa a nossa identidade.
As patrulhas a que se refere o Pedro são uma expressão deste processo, face visível e barulhenta, pregando a firmeza das suas certezas absolutas e, sobretudo, condenando a eito.
Valha-nos mestre Aquilino e outros mais para arejar a enxovia.»

 

Do nosso leitor PN Ferreira. A propósito deste meu texto.

 

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«Há mais ou menos 50 anos, eu andava frequentemente com as ovelhas dos meus tios, levava-as a pastar no passal. Era no período estival, quando estava de férias da escola. Todos os dias ao início da tarde, lá ia eu. E elas, um punhado de meia dúzia, lá ficavam todas próximas da matriarca, a única presa por uma corda a qualquer troço de milho cortado. Pouco tempo depois, começavam a berregar e eu, achando que elas já estariam saciadas e, farto de lá estar e de as ouvir, lá voltava para casa com o rebanho. A casa chegados, levavámos, eu e as ovelhas, uma corrida da minha tia dizendo que as ovelhas deveriam estar toda a tarde a comer e só aí sim, ficariam fartas. Lá voltávamos ao pasto. Outras vezes, e porque um miúdo não faz os nós bem firmes, quando eu me apercebia, já elas corriam pela calçada acima, atravessando a estrada nacional na curva da morte, e eu atrás delas sem olhar o trânsito, todos em direcção a casa. Nem sei bem, depois de todas as vezes que este episódio aconteceu, como é que ainda hoje estou vivo. Também não me lembro de alguma vez uma ovelha ter sido atropelada na curva da morte, mas por alguma razão bem macabra ela assim era chamada. Claro está que quando lá chegados, voltávamos todos para o campo, novamente estimulados pela rabecada de quem mandava. O tempo parava literalmente, quando eu estava com as ovelhas no passal, de tal forma que eu tinha tempo para tudo, tudo mesmo entenda-se, até para todo o tipo de disparates que um miúdo daquela idade é suposto fazer para crescer bem formado, inclusive para ter aprendido a fazer um relógio de sol, desenhado na terra e acertado hora a hora pelas badaladas da torre da igreja. Por isso é que eu hoje gosto muito de conviver com os ovídeos... no prato, de preferência, acompanhados de um bom Douro. Mas sim, parabéns pela aparente boa gestão do seu minifúndio.»

 

Do nosso leitor Vítor Augusto. A propósito deste texto do Paulo Sousa.

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