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Delito de Opinião

Os bois, os nomes, e os géneros

João Campos, 09.09.16

O destaque do Eduardo Pitta é interessante, mas merece um reparo. Apesar de os romances que o celebrizaram (Do Androids Dream of Electric Sheep?A Scanner Darkly e este The Man in the High Castle) poderem ser considerados distopias, será um tanto ou quanto redutor dizer que Philip K. Dick foi um dos guru da ficção distópica - e logo ele, figura maior da literatura de ficção científica, género que desenvolveu de forma ímpar em inúmeros contos a partir dos anos 50 (é ler RoogPaycheckSecond Variety, entre tantos outros) e em vários romances (aos que citei poderia juntar Ubik ou The Martian Time-Slip) que escreveu até à sua morte prematura em 1982. É sempre simpático ver a "elite" literária a olhar para o lado uma vez por acaso e a dar atenção a textos de géneros que regra geral considera menores, mesmo quando continua a ser incapaz de ver para lá das referências que toda a gente já conhece (The Man in the High Castle, estando muito longe de ser o melhor texto de PKD, até teve por cá uma outra edição há poucos anos, e uma adaptação televisiva recente); mas não lhe cairiam os parentes na lama por tratar os bois pelos nomes. 

 

(Também será muito discutível a afirmação de que [p]ara muita gente, Dick é o homem por trás de Blade Runner, o filme que Ridley Scott fez a partir do romance Do Androids Dream of Electric Sheep?; na história da literatura de ficção científica, e no contexto dos anos 50 e 60, PKD é tão incontornável como Heinlein, Asimov e Clarke; os seus romances e as suas colectâneas de contos continuam a ser reeditadas com regularidade no mercado de língua inglesa; e muitos outros textos seus têm sido adaptados para cinema e televisão. Dito de outra forma: é bem possível que PKD seja muita coisa para muita gente. Mas talvez não valha a pena entrar por aí.)

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