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Delito de Opinião

Os barbudos que odeiam as mulheres

Pedro Correia, 25.09.22

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Teocracia islâmica oprime o Irão há 43 anos

 

O Irão está em pé de guerra. Não contra outro país, mas contra si próprio. Ou antes: o Estado teocrático dos aiatolás declarou guerra ao povo iraniano. Sobretudo às mulheres. Pelo simples facto de serem mulheres. 

Há estados totalitários onde impera o ódio de classe ou o ódio racial. No Irão sob a bota dos clérigos barbudos impera o ódio sexual. Os aiatolás - alvos de tanta tolerância e "compreensão" em círculos bem-pensantes do Ocidente - odeiam as mulheres. E agem em conformidade, exercendo sobre elas uma repressão permanente, que agora suscita um gigantesco levantamento popular neste país sujeito há 43 anos a uma das mais ferozes ditaduras do planeta.

 

Tudo começou no dia 16 com a morte de uma jovem iraniana curda, detida e agredida pela imoral "Polícia da Moralidade" por mostrar parte do cabelo na via pública, algo interdito neste Estado que em 1979 mergulhou nas trevas medievais.

Mahsa Amini, de apenas 22 anos, sucumbiu à violência policial. As suas imagens, já agonizante, indignaram milhões de jovens de ambos os sexos que agora arriscam a vida nas ruas. Revoltam-se contra a brutalidade do totalitarismo islâmico neste país onde nascer mulher é sofrer dupla indignidade.

 

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Mahsa Amini, assassinada aos 22 anos no Irão por «mostrar o cabelo»

 

Os clérigos, assustados com a revolta popular em todas as províncias do país, fizeram aquilo em que mais se especializaram: ordenaram aos esbirros do poder que atirassem a matar. Pelo menos 50 pessoas já tombaram sob as balas assassinas. A tropa está a ser mobilizada para esmagar a rebelião civil, entre apelos públicos da ala mais extremista do regime à execução sumária dos jovens que se atrevem a desafiar o Governo.

Mas a rebelião cívica continua: mulheres sem véu exibem com orgulho o cabelo na via pública, jovens registam imagens que divulgam nas redes sociais apesar de o Governo ter imposto sérias restrições à internet. Nas ruas, a palavra mais escutada é «liberdade».

 

A nova vaga de protestos pode ser afogada em sangue, como aconteceu em 1999 e 2009, às ordens de um regime repugnante, que apenas subsiste pelo aparelho repressivo montado ao longo destas quatro décadas. Detenções ilegais de opositores e a prática de tortura nas prisões tornaram-se banais no Irão, como tem denunciado a Amnistia Internacional.

Estes barbudos que odeiam as mulheres são hoje fortes aliados de Vladimir Putin e da sua corte de oligarcas, algo que faz todo o sentido. Estão bem uns para os outros.

5 comentários

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    Pedro Correia 25.09.2022

    Blablablablablá.
    Fala-se do Irão que anda a matar todos os dias dezenas de jovens só porque recusam sair à rua sem véu e vem este falar do Vaticano.
    Exemplo mais rasca de whataboutism.
    E de falta de elementar coragem para denunciar um dos mais repugnantes regimes totalitários das últimas décadas.
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    Carlos Sousa 25.09.2022

    Calma. Não é uma questão de whataboutism. É evidente que eu critico o que se está a passar no Irão, é evidente que eu critico o Putin, mas também não posso deixar de criticar o que se está a passar noutros países e que é uma clara violação dos direitos humanos. É o caso da China com a experiência macabra da covid 0.
    Na questão do comentário apenas citei a história para enquadrar o argumento, mais nada.
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    Pedro Correia 25.09.2022

    A China vem a propósito deste tema. Ainda hoje há muito mais homens que mulheres na China (ao contrário do resto do mundo) porque durante décadas, no maoismo, havia ali a "tradição cultural" de matar bebés à nascença quando eram do sexo feminino.
    Não se fala disso para evitar impor "padrões culturais" do Ocidente à China. O mesmo silêncio em torno da mutilação genital praticada em muitos países africanos (de matriz islâmica). Também para "respeitar as diferenças culturais".
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    Carlos Sousa 25.09.2022

    É precisamente por não se falar disso para não se ferir susceptibilidades que eu sou contra. Detesto hipocrisia, ou há moralidade ou comem todos, não há cá meias tintas.
    Porque é que não se há-de equiparar regimes cuja finalidade é humilhar e subjugar o ser humano? Qual é a diferença entre um regime que proíbe mostrar um cabelo e outro que proíbe mostrar um cartaz em branco?
    A humanidade evoluiu, e mais tarde ou mais cedo, as ideias tribais vão deixar de existir com ou sem punições.
    Não é à toa que as oposições são cada vez mais radicais e em regimes outrora impensáveis.
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