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Delito de Opinião

Ortopedix tinha razão

João Campos, 10.10.15

asterix e o presente de cesar excerto.jpg

As épocas de eleições fazem-me sempre regressar às páginas de Astérix e o Presente de César, quando o vetusto Abraracourcix (continuo a usar os nomes que conheci nas traduções da Meribérica) e o recém-chegado Ortopedix se enfrentam em campanha eleitoral pela liderança dos irredutíveis gauleses. E esse regresso chega sempre a estas três vinhetas, e ao cinismo tão certeiro de Ortopedix: os números dizem o que quisermos. Como, aliás, a esquerda cá da paróquia tanto se tem esforçado por demonstrar desde Domingo último, quando se confirmaram os resultados eleitorais que as sondagens vinham anunciando.

 

A interpretação é lógica - retorcida, mas lógica. Como a coligação PSD-CDS perdeu a maioria absoluta e o Parlamento tem agora uma maioria de esquerda (de várias esquerdas, mas tais diferenças foram reduzidas à condição de pormenores, pelos vistos), deve ser essa maioria de esquerda a formar Governo - apesar de nenhum desses partidos, por si (já que não se apresentaram a eleições coligados - outro pormenor), ter ganho as eleições. Ainda que a Constituição possa dar legitimidade ao caldo, dificilmente os portugueses o dariam (mais um pormenor). Já o argumento, esse, é hilariante: 61,4% dos eleitores rejeitou um Governo da coligação, pelo que deve ser a Esquerda unida - derrotada em separado - que deve governar.

 

É uma lógica interessante, e que permite algumas interpretações não menos interessantes. Como, por exemplo:

 

  • 67,6% dos eleitores portugueses não quis que o PS fosse Governo;
  • 89,8% dos eleitores portugueses não quis o Bloco de Esquerda no Governo;
  • 91.7% dos eleitores portugueses não quis a CDU no Governo
  • 81.5% dos eleitores portugueses não quis o Bloco de Esquerda e a CDU no Governo.

 

Dito de outra forma: a mesma lógica que os partidos da esquerda utilizam para dar a coligação de direita como derrotada nas eleições pode muito bem servir para rejeitar a solução por eles proposta. É caso para regressarmos a Ortopedix: os números dizem mesmo o que quisermos. 

4 comentários

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    William Wallace 10.10.2015

    O PAF venceu por isso deve governar, como não tem maioria absoluta deve procurar junto dos outros partidos formas de viabilizar as suas politicas (do PAF ) e estes devem ser receptivos porque reconhecem a sua (deles) derrota, é assim em todo o lado.

    O PS partilha toda a cartilha do PAF nas questões ditas fracturantes que a verdadeira esquerda não partilha, logo o PS não pode nunca promover uma frente que não representa e para a qual não foi legitimado uma vez que antes das eleições essa hipótese foi rejeitada tanto pelo PS como pelo PCP e BE.

    O que é necessário é que as pessoas sejam honestas, sérias, assumam as suas responsabilidades e as consequências dos resultados eleitorais.

    As patifarias do PAF não podem nunca justificar uma frente de esquerda assente débeis pilares só porque sim, até porque o PAF apesar de todas as escandaleiras e dolo na governação venceu as eleições e não podemos andar a brincar ás eleições até as mesmas nos conferirem o resultado que pretendemos que por acaso é um modus operandi muito a lá PS.

    Como o Vento sabe que eu sou fortemente contra o PAf , as suas politicas na forma e conteúdo por isso estou mais que á vontade para lhe dizer que não reconheço qualquer legitimidade a esta pseudo frente liderada por uma pessoa oportunista e refém de interesses que não o NACIONAL.


    " Somos um país pequeno, com problemas sérios, e não podemos aderir a frentes débeis, só com o fim de proclamar que - brincamos às democracias "
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    jo 10.10.2015

    Então a Pàf que procure as soluções e as apresente.

    Neste momento só apresenta lamúrias e a exigência de governar como bem entende. Esse tempo já acabou, tal como a campanha. Agora não basta dizer que os outros são maus, é preciso merecer o que se quer.
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    William Wallace 11.10.2015

    A procura de soluções diz respeito aos dois lados mas temos de entender que o PAF é o vencedor e o PS o partido derrotado sendo que o que os une (ao PAF e PS) é muito mais sólido do que aquilo que une o PS ao PCP ou ao BE sendo portanto que ambos (PS e PAF ) têm de fazer concessões mutuas e o PS encontra-se muito mais vinculado ás mesmas.
    O PS não pode nem deve patrocinar o subverter das regras estabelecidas só porque as suas entourages pretendem o poder pelo poder, isto que fique claro.
    Sempre advoguei que quem estivesse indeciso entre PS e PAF deveria votar PAF exactamente por aquilo que está a acontecer, o PS não quer aceitar a realidade e os factos, a sua busca do poder pelo poder pode levar Portugal e os portugueses a sofrerem ainda mais.

    Alguém acredita que se o PS tivesse ganho as eleições com maioria simples iria procurar apoio á esquerda !
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