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Delito de Opinião

Orgulhosamente sós.

Luís Menezes Leitão, 28.07.14

  

Para muita gente o país arranjou uma nova causa nacional, que considera até semelhante à da independência de Timor-Leste: correr com o Sr. Obiang da CPLP. O sr. Obiang é evidentemente um patife e não pode ser admitido numa comunidade de países que até agora sempre prezou a democracia, o estado de direito e a boa governação. Trata-se de países que sempre foram geridos por grandes democratas, absolutamente insuspeitos de ceder à corrupção, palavra aliás que nem deve sequer ser portuguesa. Efectivamente, a CPLP era até agora uma comunidade de missionários desinteressados, apenas preocupados com o desenvolvimento da língua portuguesa no mundo, embalada no doce acordo ortográfico. E nessa comunidade todos os outros países se vergavam à sábia e prudente orientação de Portugal, que nunca se atreveram a pôr em causa. E muito menos  alguma vez um outro país pensou em utilizar a CPLP para fins económicos, o que claramente poria em causa os fins culturais puríssimos da organização, e que o seu líder, Portugal, nunca poderia aceitar.

 

Sucedeu, porém, uma tragédia nacional. O patife do Sr. Obiang, incapaz de falar português — até agora só conseguiu dizer "sim, sim", julgando se calhar que tal bastaria — conseguiu ser admitido na organização, contra a vontade do povo português, que o Presidente Cavaco foi incapaz de defender. Todos os outros países da CPLP quiseram admitir o Sr. Obiang contra Portugal, incluindo novos países arrivistas no mundo, como o Brasil e Angola, que não têm os séculos de história que tem Portugal e que por isso deveriam seguir obedientemente a nossa posição. Até Timor-Leste, que Portugal conseguiu sozinho arrancar das garras indonésias, nos atraiçoou, com Xanana Gusmão a andar de braço dado com o Sr. Obiang. Imagine-se que Xanana Gusmão até visitou recentemente a Guiné Equatorial, tendo sido convidado a assistir a uma reunião do Grupo de Personalidades Eminentes dos países ACP (África, Caraíbas e Pacífico), cuja sessão de abertura contou com uma intervenção do Presidente da Guiné Equatorial, não por acaso o patife do Sr. Obiang. Como é que se pode admitir semelhante traição de um combatente da liberdade à causa justa pela qual Portugal continua a combater? E como é que Xanana se atreve a participar numa reunião dos países ACP, quando se trata seguramente de uma organização de países malfeitores, ou nunca se reuniria no país do maléfico Sr. Obiang? Especialmente quando a alternativa é a maravilhosa CPLP, uma organização pura e desinteressada, onde nunca malfeitores deveriam entrar. Ai Timor, calam-se as vozes dos teus avós!

 

Isto não pode ser. Portugal tem que defender orgulhosamente só a sua posição. A Guiné Equatorial, mesmo tendo sido uma possessão portuguesa durante 300 anos, nunca pode entrar na CPLP, que tal seria uma vergonha para Portugal. Mesmo estando falidos, somos nós que mandamos na CPLP. Os outros países da CPLP têm que obedecer às posições portuguesas, sob pena de os expulsarmos também, juntamente com o Sr. Obiang, altura em que faremos a CPLP sozinhos. Assim ela manterá a sua pureza original, ficando os portugueses orgulhosamente sós. Há muitos anos que essa tem sido sempre a nossa posição no mundo.

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