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Delito de Opinião

Onde é que estavas no 11 de Setembro?

jpt, 11.09.19

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(Reproduzo um postal que coloquei em Março de 2004.)

Nesse 11 de Setembro tínhamos imensa gente em casa para jantar. O motivo do repasto era a visualização de um documentário sobre Nacala, feito pela Joana Pereira Leite. Lá se jantou, os convivas nervosos, estupefactos. No fim mais ou menos votou-se o vídeo em detrimento da CNN e lá se seguimos para as memórias da Joana. Claro que num dia desses tudo terminou em grande discussão, sobre méritos e deméritos do vídeo, seu sub-texto e etc. Serviu de catarse.

Já noite longa e terminados os contra-argumentos levei alguns dos convidados, os portugueses, ao hotel. Fiquei-me só, bastante acelerado, de tudo o que se tinha visto quase em directo, do jantar meio louco, da discussão que se seguiu, e do cocktail de cervejas, gin, vodka, tinto e whisky que tinha acompanhado o dia.

Não me imaginei na cama e segui à Bagamoyo, meio vazia estava, dia de semana e tão especial. Porta a porta entrei no Luso, onde o balcão pode ser recatado em troca de uma ou outra Reds, ofertada à menina que servirá de biombo. Também a matar a noite por lá estava o André, um italiano meu conhecido e há muito aqui residente. Lá nos juntámos, o assunto era óbvio. O horror, o espectáculo, o futuro. Tudo dito e redito. Até que começou ele com a arenga que os americanos estavam mesmo a pedi-las, tinham que levar com situações destas, tanta a sua arrogância, o imperialismo. E tudo quanto fazem pelo mundo afora.

Tentei interrompê-lo, a puxar-lhe pela manga, até numa concordância que muita violência fazem e patrocinam os EUA. Mas caramba, aquilo tinha sido horrível - "viste aqueles tipos a saltar lá de cima?" - e ele nada, nada mesmo, que era tempo dos americanos sentirem em casa a violência, não tinha pena nenhuma. Bem, que me restava fazer? Concordei com ele. Que tinha razão. Realmente o poder americano é violentíssimo, usa a agressão constantemente e capeia-a. E fui adiantando que ao olhar para trás também saudava todos os italianos mortos durante a II Guerra Mundial. Não é que os sacanas tinham apoiado o Mussolini?

Não percebi bem porquê mas ficou irado, insultou-me. A conversa morreu ali mesmo, e desde então cada vez que me vê - e já lá vão quase três anos - limita-se a um aceno, tão breve quanto possível. Nos dias seguintes fartei-me de ouvir gente a dizer o mesmo que ele. Que tinha sido horrível, é certo. Mas que estava na altura de eles apanharem em casa. E nem todos os que falavam eram italianos. E eu sem saber o que lhes dizer.

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