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Delito de Opinião

Octobres ou Outubro, o oitavo mês que é o décimo

Revisões e matéria

Maria Dulce Fernandes, 01.10.24

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Outubro chegou e, no Hemisfério Norte, isso geralmente significa que os dias estão cheios de folhas a cair, tempo frio e uma crescente expectativa pela época festiva.

Estamos em Outubro, o 10.º mês do ano. Outubro era na realidade o oitavo mês do ano no antigo calendário romano. O seu nome vem do latim “octo”, que significa “oito”.

O calendário romano era originalmente lunar e baseado nas fases da lua. Tinha só 10 meses e o ano totalizava apenas 304 dias. Os romanos tinham de ajustar regularmente o seu calendário para se manterem sincronizados com as estações do ano e ao longo dos séculos o calendário tornou-se seriamente confuso. Por volta de 47 a.C., estava um caos total, 67 dias à frente do ano verdadeiro. Júlio César usou a sua autoridade como ditador do Império Romano para fazer a necessária correcção.

Embora fosse estudante de astronomia, César dificilmente estava à altura da tarefa de rever o calendário. Visitou uma pessoa que hoje está praticamente esquecida: um astrónomo chamado Sosígenes. Pouco foi preservado na história sobre Sosígenes – excepto que era um grego alexandrino. Foi ele quem criou o calendário que ainda é a base do que usamos hoje. Tinha 365 dias, com um dia adicionado a cada quatro anos, em Fevereiro. Os meses alternados — Janeiro, Março, Maio, Julho, Setembro e Dezembro — tinham 31 dias; os meses intermédios tiveram 30 dias cada, excepto Fevereiro, com apenas 28 e, nos anos bissextos, 29 dias.

A cronologia teve de ser sincronizada com as estações do ano. César decretou que o ano 46 a.C. teria 445 dias. Em todo o Império Romano foi chamado o ano da confusão. O novo calendário reorganizou também a ordem estabelecida dos meses. Em vez de começar em Março, com o início da Primavera, como acontecia no antigo calendário romano, Sosígenes começou o seu a 1 de Janeiro. É por isso que o nono mês, Setembro, recebe o nome do número sete, depois Outubro o do número oito, Novembro o do número nove e Dezembro o do número dez.

E, claro, Júlio César recebeu todo o crédito pela renovação, de tal modo que o calendário ainda tem o seu nome – calendário juliano. Assunto fascinante, a medição do tempo. O tempo é a nossa janela para o mundo; usamo-lo para criar ordem e moldar o mundo em que vivemos. Usamos o tempo para medir coisas grandes, como a ascensão e queda de civilizações, e coisas pequenas, como o crescimento das nossas vidas individuais.

Temos muitos métodos para medir as coisas, mas só um sistema para medir o tempo. As “ferramentas” que utilizamos são o relógio e o calendário. Analógicos ou digitais, os relógios estão sempre no “presente”, avisando-nos que o tempo está a passar. Os calendários são lineares, compostos por caixas que contêm tudo o que acontece num dia. Quando o dia terminar, esta caixa estará pronta. 

Os calendários baseiam-se em três ciclos astronómicos: O dia, que é o tempo que a Terra demora a executar um giro completo em volta do seu eixo imaginário – cerca de 24 horas - e que dá origem aos dias e às noites; o mês, que é uma órbita completa da Lua em torno da Terra, dura 29,53 dias; e o ano, que é uma órbita completa da Terra em torno do Sol, é de 365,24 dias.

A duração do ano e do mês são médias. A duração real de um ano varia vários minutos devido à influência da gravidade do Sol e de todos os outros planetas do nosso sistema solar. Devido a estas constantes mudanças, os calendários sempre foram imperfeitos e dentro de alguns anos podem ficar dessincronizados com as estações do ano.

O único problema real do calendário juliano era o tratamento dos anos bissextos. Com o passar dos séculos, tornou-se cada vez mais impreciso no que diz respeito às estações do ano. Isto foi especialmente preocupante para a Igreja Católica porque afectou a determinação da data da Páscoa, que, por volta de 1500, estava a caminho de entrar no Verão.

As nações ocidentais mediram o tempo através do calendário juliano até 1582, quando o Papa Gregório XIII autorizou uma correcção no calendário que se aproximava mais do tempo real que a Terra demora a completar uma órbita em torno do sol. O novo calendário resultante recebeu o nome do Papa Gregório e é o que usamos hoje. Este calendário tem ainda um factor de erro de três dias a cada 10 mil anos, pelo que eventualmente terá de ser feita uma correcção.

E o que tem tudo isto a ver com Outubro? Foi a 4 de Outubro de 1582 que o calendário gregoriano entrou em vigor nos países católicos, quando o Papa Gregório XIII emitiu um decreto declarando que o dia seguinte a quinta-feira, 4 de Outubro de 1582, seria sexta-feira, 15 de Outubro de 1582, corrigindo um erro de 10 dias acumulado pelo calendário juliano. Mas a maioria dos países protestantes só adoptou o calendário gregoriano muito depois. A Grã-Bretanha esperou 200 anos. A Inglaterra e as Américas só o adoptariam em 1752.

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