O vírus é reaccionário
O recente fracasso nos Açores, onde foi excluído da Assembleia Legislativa Regional por decisão dos eleitores, parece não ter ensinado nada ao PCP: os comunistas teimam em marchar em sentido oposto às medidas de elementar precaução sanitária.
Cegos perante as evidências e surdos ao apelo quase lancinante do primeiro-ministro: «A regra é simples: temos de ficar em casa.»
O Governo tem sido justamente criticado pela caótica gestão da comunicação em tempo de pandemia: estabelece a regra e contemporiza com toda a espécie de excepções, incentivando assim os portugueses a contornar a norma - exercício em que somos exímios.
Nada contribuiu tanto para isso como o comportamento refractário do PCP, acolitado pelo seu braço sindical, a CGTP. Furou o dever geral de confinamento com a "celebração" do 1.º de Maio na Alameda, em pleno estado de emergência. Insistiu em promover a Festa do Avante! (ao contrário do que fez o Partido Comunista Francês, que anulou de imediato a sua quase centenária Festa do L' Humanité), quando as estatísticas sobre novas infecções já eram alarmantes. E persiste agora em manter o congresso, com uma chocante indiferença pelas vítimas da pandemia, quando ultrapassámos os 500 óbitos por semana.
Ao contrário do que fez o PS, que adiou sine die o congresso nacional previsto para Maio. Ao contrário do que fez o PSD, que cancelou todas as festas partidárias - mesmo as mais emblemáticas, como as do Pontal e do Chão da Lagoa. Ao contrário do que fez o Bloco de Esquerda, que adiou para a Primavera de 2021 a XII Convenção Nacional do partido e desmarcou o seu acampamento de Verão.
O PCP, ao invés, persiste em moldar a realidade aos seus desejos. Com idêntica obstinação, chama "epidemia" à pandemia. Num afã negacionista, similar ao que todos os anos, na Assembleia da República, leva os comunistas a opor-se aos voto de congratulação pela queda do tenebroso Muro de Berlim, como há dias voltou a acontecer. Quatro décadas depois, mostram-se incapazes de aprender elementares lições da História.
O Presidente da República já advertiu: «Aquilo que for decidido para o estado de emergência, no futuro, será igual para todos.» Mas António Costa precisa dos votos do PCP - e do seu apêndice verde - para ver aprovado o Orçamento do Estado de 2021. Cederá, portanto, a qualquer capricho dos comunistas. Mesmo que o Governo faça uma breve pausa no estado de emergência para que o partido da foice e do martelo reúna tranquilamente no conclave de Loures, entre 27 e 29 de Novembro, e retome o confinamento geral na segunda-feira, dia 30.
Que isto acabe por engrossar a maré dos protestos colectivos, cada vez mais inflamados, é o preço que Costa paga para obter o aval de Jerónimo de Sousa às suas contas, tornando-se refém político dos comunistas. As consequências deste abraço de urso a um Governo em queda de popularidade ficarão à vista nas autárquicas de 2021, para uns e outros.
No fim acabarão todos por culpar o vírus, chamando-lhe reaccionário.