Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O triunfo do ódio e da iliteracia

Pedro Correia, 14.04.21

pigs-in-mud.jpg

 

Na ânsia quase desesperada de amealhar cliques, que permitam a certos títulos continuar a subsistir no limiar da sobrevivência, a imprensa em linha continua a reproduzir injúrias e calúnias de todo o tipo. Ainda agora verifiquei isso, a propósito da morte súbita de Jorge Coelho.

Vocabulário obsceno, em diversos sentidos da expressão, foi não apenas admitido mas tolerado (se não mesmo incentivado) nas caixas de comentários dessas publicações. 

Insultos carregados de ódio pessoal ou ideológico que no DELITO DE OPINIÃO, por exemplo, vão de imediato parar ao ecoponto, ali são divulgados e ficam perpetuados na nuvem digital.

Interrogo-me se é esse o género de leitores que tais periódicos querem captar. Interrogo-me se para os responsáveis desses jornais valerá mesmo tudo para atrair e reproduzir tal lixo. Questiono-me ainda se as injúrias os visassem a eles teriam idêntica compreensão e tolerância.

E já nem me refiro apenas à linguagem caluniosa. Refiro-me também aos mais inconcebíveis erros de ortografia, que transformam a língua portuguesa numa abjecta caricatura de si própria: também ficam perpetuados, talvez para a eternidade, nessas caixas de comentários de jornais que volta e meia publicam sisudos editoriais em defesa da cultura - e desse "bem cultural" maior que é o nosso idioma, património comum de quase 300 milhões de pessoas

 

Não reproduzo aqui as injúrias, como é óbvio. Mas reproduzirei alguns dos mais primários e boçais erros ortográficos que li só numa dessas caixas de comentários de um desses jornais, supostamente de grande circulação. Para que se perceba melhor como estes títulos se demitem da sua função essencial - até reconhecida por lei - de preservação e valorização da língua portuguesa:

«Pás a sua alma...»

«... muito cordeal...»

«... acto de degnidade...»

«... falar nele nos mídea...»

«... intelectualemente honesta...»

«... desça em pás...»

«... estado portugues...»

«... sofreu 3 banca rotas económicas...»

«...quando se não vêm qualidades...»

«porque è cuando morre um pobre ninguem fala...»

 

O outro falava no triunfo dos porcos. Nós assistimos, impávidos, ao triunfo do ódio e ao triunfo da iliteracia. Todos os dias, a toda a hora, nos locais mais insuspeitos. Supostamente geridos por gente letrada que supostamente recebe ordens para acolher todo o lumpen e todo o lixo.

96 comentários

Comentar post