O "sistema"
"Em pouco mais de um ano, dois governos caíram por suspeitas graves sobre a conduta do primeiro-ministro. Ora, essas suspeitas não resultaram de casos sem relação entre si. Os incidentes não são obviamente iguais, mas ambas as situações derivam do mesmo problema: a maneira como a classe política da actual democracia usa um Estado hipertrofiado para exercer um poder muito pouco democrático e extrair rendas em proveito pessoal. O que transparece nas operações Marquês, Tutti Frutti, Influencer e agora neste caso de Luís Montenegro não é a idiossincrasia desta ou daquela personagem, mas um “sistema”. É talvez mais claro agora que as reformas em Portugal, isto é, a liberalização da economia e a reestruturação do Estado e dos serviços públicos, não são apenas uma questão de equilíbrio e de eficiência, mas uma questão de democracia e de ética. O regime nunca deixará de sujar-se enquanto os políticos forem tentados a tirar partido das “influências” que o estatismo lhes dá. É essa, neste momento, a principal fonte da instabilidade política em Portugal."
Rui Ramos, Observador