O seu tempo próprio
1Neste mundo, tudo tem a sua hora; cada coisa tem o seu tempo próprio.
2Há o tempo de nascer e o tempo de morrer; o tempo de plantar e o tempo de arrancar (..)
5o tempo de atirar pedras e o tempo de as juntar; o tempo de se abraçar e o tempo de se afastar;
6o tempo de procurar e o tempo de perder; o tempo de guardar e o tempo de deitar fora;
7o tempo de rasgar e o tempo de coser; o tempo de calar e o tempo de falar (...).
Livro de Eclesiastes, 3 (1-2;5-7)
Não sei que idade terão os vossos pais, ou teriam. Os meus têm mais de oitenta. Estão a aguentar-se bem. Quando penso neles, recordo como quase nenhuma geração é poupada a aflições: conheceram primeiro a privação de alimento, a guerra; a peste ficou para o fim. Tiveram e têm o seu tempo próprio. E nós, e o nosso tempo? Não sabemos - não é coisa que consigamos realmente prever. Vivemos as primeiras décadas de vida em progressiva melhoria, comparativa abundância. Agora é hora de nos havermos com uma verdadeira dificuldade colectiva. Há semanas ou meses que convivemos com este encargo novo, cheio de cansaços e angústias surpreendentes. É vez de cuidarmos dos nosso mais velhos e dos nossos mais novos em circunstância instável. Todos os dias improvisamos, todos os dias há uma nova exigência a acrescer ao que tínhamos previsto. É isto, foi esta a fragilidade que os outros, neste mundo e noutra hora, sentiram antes de nós?
Num tempo de guardar e de deitar fora, de se abraçar e de se afastar, evoco duas grandes alegrias: trabalhar em algo que importa e pertencer a uma boa equipa. Quis a sorte que neste ano desse por mim, todos os dias, a fazer parte de um colectivo de pessoas competentes, confiáveis e generosas. Uma pessoa aguenta quase tudo, quando assim acontece.