O ridículo do Nobel.
Já tinha escrito aqui o que pensava do disparate da atribuição do Nobel a Bob Dylan. Agora o único autor que de facto deve ter merecido o prémio nos últimos vinte anos, Vargas Llosa, veio criticar a escolha e perguntar se da próxima vez dão o prémio a um futebolista? Acho de facto que a pergunta faz todo o sentido, uma vez que pelo mesmo critério de escolha de Bob Dylan, até as frases de Jorge Valdano poderiam aspirar a um Nobel.
Bob Dylan é um excelente autor de canções, mas não é comparável a qualquer escritor a sério. Nunca os textos das suas canções recolhidos em livro podem sequer ser comparados às extraordinárias obras de Vargas Llosa, como A Festa do Chibo, A Guerra do Fim do Mundo, O sonho do Celta ou mesmo até o último Cinco Esquinas. O problema é que muitas pessoas endeusam os cantores da sua juventude e fazem tudo para os premiar, caindo no ridículo. O critério que fez o júri sueco premiar Bob Dylan é o mesmo que fez o Presidente Jorge Sampaio condecorar os U2 com a Ordem da Liberdade: homenagem em saudosismo pela juventude perdida. É também a mesma coisa que faz Marcelo evocar a sua juventude para aplaudir oficialmente a atribuição deste prémio Nobel, e insistir em ver Fidel Castro ao vivo quando se deslocar a Cuba.
A questão é que os próprios homenageados também acham ridícula a homenagem. Os U2 foram ao Palácio de Belém receber a condecoração vestidos informalmente e Bob Dylan nem sequer se dá ao trabalho de atender o telefone ao júri sueco, quanto mais deslocar-se a Estocolmo para receber o prémio. Fidel Castro é também capaz de receber Marcelo em fato de treino enquanto aguarda pela enfermeira para os tratamentos matinais. Se há coisa que pessoas em funções de responsabilidade nunca podem perder é a noção do ridículo. Infelizmente esta gente há muito que a perdeu.