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Delito de Opinião

O regresso ao social-fascismo

jpt, 04.12.21

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"É fácil atirar contra o Chega bruto, o de Ventura, mas achar graça ao Chega sofisticado do Observador.", diz José Pacheco Pereira no "Público" de hoje.

Poder-se-á elaborar sobre as intenções do comentador, sobre o peso do legado das questiúnculas internas no PSD, desde a compita entre Passos Coelho e Ferreira Leite - amplamente abordadas no então Abrupto - até à actual, entre as diversas "tendências" daquele partido. Ou propalar uma deriva do comentador, de regresso a laivos da mundivisão que patenteou até aos anos 1980s, num período antecedente à sua dinamização do "Clube de Esquerda Liberal", já no rumo que o conduziu ao PSD de Cavaco Silva. Poder-se-á até, com malevolência desrespeitadora, aventar um ocaso analítico. Ou outro qualquer força motriz íntima.

Mas nada disso é relevante. Não só porque se restringe a uma atenção pessoalizada mas, fundamentalmente, porque nada diz do ambiente geral em que este tipo de dichotes são consagrados e respeitados. Pois, de facto, o relevante é que esta afirmação do comentador é denotativa do ambiente de alguma esquerda transgeracional actual, o regresso da invectiva aos "sociais-fascistas". Sendo estes todos os que não aderem ao ideário virtuoso que esses auto-proclamados "progressistas" perseguem - mesmo que este seja mais fluido e abrangente, menos "científico", do que na primeira versão histórica deste epíteto. E o que o foi um verdadeiro drama suicidário, naqueles anos 30s de XX, é hoje, no remanso português de Pacheco Pereira e afins, uma patacoada de triste farsa.

É(-me) uma dor de alma assistir a isto.

 

5 comentários

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    jpt 04.12.2021

    João Sousa, eu também já disse in-blog por várias vezes: o Pacheco Pereira foi meu professor na licenciatura e dele guardo memória de um excelente professor, sábio, analítico, contextualizador. Exemplar. Foi um dos dois grandes professores que tive nesse passo da minha formação, e tive ainda alguns outros de grande qualidade. Como tal todas as habituais lérias - que também aqui surgem - que confundem oposição política ou discordância com a argumentação com a negação dos conhecimentos e capacidades alheias ("pseudo-intelectual", "falso historiador", coisas dessas - ainda para mais botadas por gente que nem sabe do que fala e contesta, e para isso basta ver os comentários acima, de tom "doutoral" mas que - exactamente por esse tom - surgem mostrando uma pungente ignorância sobre o que se fala), essas desvalorizações, dizia eu, valem nada.

    Mas, e se é evidente que para botar na imprensa, mergulhando na vida política da actualidade, não é preciso fazer actuar esse manancial de conhecimento intelectual, e muito menos mostrá-lo, também é notório que jpp prefere assumir um tom de publicista, polemista, que é demasiado rasteiro, e enviesado. Além de que tem "ódios de estimação" os quais lhe minam a pertinência (e o "Observador" é um deles).

    Agora isso do trabalho da Ephemera é importante. E, já aqui o botei uma vez, dá a sensação de que o mergulho nesse trabalho, e na articulação da equipa, julgo que vasta, de colaboradores voluntários em tal tarefa, o recentrou ideologicamente, o ancorou afectivamente numa época e numa topologia. O fez regressar ao passado, por assim dizer. Foi "raptado", seduzido, pelo objecto. Acontece a muitos, mas mais aos antropólogos do que aos historiadores...
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    Pedro Oliveira 04.12.2021

    jpt, "falso historiador", provavelmente, estará ligado ao facto de o senhor ter formação académica em Filosofia.
    Se eu escrever um livro sobre a vivência dum pastor transsexual da Beira Alta inserida numa vivência pós-trasumancia, mais sedentária numa sociedade fechada, territorialmente, mas globalizada por via das novas tecnologias e o impacto dessa vivência na comunidade, penso que isso não fará de mim um antropólogo. Continuo a ser um gajo com um curso técnico-profissional de carpintaria que escreveu um livro a armar-se em antropólogo.
    Posso estar equivocado, claro.
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    V. 05.12.2021

    dum pastor transsexual da Beira Alta

    Deve ser o Fábio — que passou de homem a ovelha
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    jpt 05.12.2021

    não seja quem seja esse tal Fábio, mas tem a minha solidariedade, pobre ovelha
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