O regresso
Foto: João Relvas / Lusa
O estado de anemia do espaço político tradicional do centro-direita ficou bem patente, nestes dois últimos dias, com o regresso de Pedro Passos Coelho aos focos noticiosos. Nem precisou de abrir a boca. Bastou-lhe aparecer na convenção promovida pelo MEL no centro de congressos de Lisboa para se tornar notícia. Em silêncio, conseguiu mais protagonismo do que todos os oradores.
Quem esteja atento aos sinais, percebe que nada disto acontece por acaso. No segundo dia, Passos entrou na sala seguido de Paulo Portas - numa espécie de hierarquia natural, reproduzindo a existente no Governo que ambos formaram há dez anos. Também aqui foram desnecessárias palavras: a linguagem não-verbal dizia tudo. Com um toque de premonição, como o futuro próximo demonstrará.
Enfim, o tratamento que o ex-primeiro-ministro dispensou a André Ventura foi igualmente revelador. O ansioso deputado do Chega acercou-se dele de mão estendida, procurando potenciar aquela photo op, como se diz em jargão de assessoria mediática. A reacção de Passos não deixou margem para dúvidas: nem se levantou para lhe retribuir o cumprimento, nem lhe deu uma segunda hipótese para nova imagem conjunta, abandonando a sala antes de o líder do Chega descer do palco.
Enfim, evidências de profissionalismo político. Demonstrando aos amadores como se faz. Sem necessidade de nenhuma agência de comunicação a ditar regras ou dar o mote. Quando há dotes naturais de liderança tudo isto parece fácil. Quando não há, até a própria sombra atrapalha.