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Delito de Opinião

O que sobra do "socialismo real"

Pedro Correia, 30.08.23

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O chamado socialismo real não era uma ideologia, mas uma teologia alternativa que teve em Karl Marx o seu principal profeta: assim nos ensinaram pensadores como Raymond Aron e George Steiner.

Noutros tempos, dizia-se comunismo. Acontece que hoje ninguém fala em comunismo: eclipsou-se de vez. Começando pelos próprios comunistas que restam, cada vez menos. Estes só aludem ao «socialismo».

Nunca mais regressarão as ilusões do passado, quando multidões de fanáticos se proclamavam dispostas a dar a vida por Estaline, jurando-lhe fidelidade com devoção inquebrantável. Tempos de idolatria à solta, com a razão entorpecida, que desembocaram no pesadelo totalitário e nas vítimas do Arquipélago Gulag, dos campos da morte no Camboja, do "Grande Salto em Frente" e da pseudo-revolução cultural maoísta. Simon Leys contabiliza, só na China, 50 milhões de mortos.

Religião despótica, como a definiu Bertrand Russell. Irremediavelmente condenada ao caixote do lixo da História.

O socialismo nominal é o que resta deste catecismo doutrinário que se manchou de sangue sempre que passou da teoria à prática. Como teologia de substituição, fracassou. Por ter ambicionado não apenas refundar a sociedade, mas reconstruir a própria natureza humana - quimera condenada ao insucesso desde o primeiro instante. 

De Marx quase já não restam vestígios nos dirigentes socialistas do nosso tempo, tornados meros gestores do sistema capitalista, que não pretendem derrubar nem desfigurar. Proclamam-se interclassistas, sem a menor alusão ao velho dogma da luta de classes. Nenhuma sociedade alternativa têm para propor: só ligeiros retoques à que já existe. Sobram-lhes tautologias como esta, expressa por Felipe González: «O socialismo pode ser definido como o aprofundamento do conceito de democracia.»

A utopia sumiu-se pelo caminho. 

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