Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O Pote de Ouro

jpt, 17.03.23

pote.jpg

Acima de tudo, muito mais do que paixão o futebol  - nisso entenda-se o quotidiano Sporting e, ocasional e secundariamente, a selecção nacional - é-me um placebo. Ou seja, aos desaires trato com um lesto e dialogante monólogo interior feito de viscosos palavrões e vigorosas invectivas às Entidades desavindas, ou mesmo através de resmungos partilhados com a escassa vizinhança, e logo me dedico a outras temáticas, decerto que não mais relevantes. E nos triunfos significativos - não tão habituais assim, dada a minha amada "condição" sportinguista - emerge-me um frenesim exultante que recobre, dissolve até, todas as agruras e desconchavos da (minha) vida, reacção alquímica que leva, felizmente, alguns dias a fenecer.

A vitória londrina de ontem, com o Sporting a arrumar o este ano fortíssimo Arsenal - meu clube inglês desde petiz -, e após um primeiro jogo em que  havia sido basto prejudicado por uma arbitragem reverente ao poder mediático, foi um desses momentos de felicidade (a qual nunca é espúria, seja lá qual for a sua causa) para mais tarde recordar - e a fazer-me lembrar uma outra vitória épica, quando há uma década se eliminou o Manchester City, jogo que vi em Maputo entre queridos amigos sportinguistas, alguns dos quais já cá não estão, numa noite terminada, alguns de nós numa euforia já algo inebriada, a pagar luxuosas rodadas generalizadas nos restaurantes da Julius Nyerere e a ofertar rosas a todas as mulheres - para gaúdio de um noctívago vendedor ambulante... Despesa que quase teria custeado a minha ida a Manchester....

Mas sigo diferente agora, nesta década que passou. Vi o jogo em ambiente rural, solitário sportinguista diante da tv. E mesmo, por acasos telefónicos, solitário espectador na parte final do jogo. Enfraquecido geronte, percebi-me - e de forma mais ríspida do que quando adormeço no sofá diante de um qualquer Sporting-Arouca. Pois perto do final não mais me apeteceu ver o jogo, entre o militante pessimismo ("vamos levar um golo mesmo no fim, é sempre a mesma coisa...") e um difuso desconforto, um emergente metabolismo que temi prejudicial. E assim, cinco minutos antes do temido/ansiado "apito final", levantei-me e fui dar uma volta, cristãmente temeroso de que "não vá o Diabo tecê-las". Depois, relógio consultado, regressei pronto a tomar conhecimento da derrota para, afinal!, ser recebido por um sorridente "então pá, onde é que foste?"/"vão a penaltis!". Aos quais, pois teve de ser, assisti, metafisicamente ombreando com todo o "Universo Sporting", assim podendo exultar, demencial até, no final glorioso - não é toda a glória espúria, vã e passageira? Tudo proporcionado por um conjunto de "heróis" (grande jogatana) e por um maravilhoso Pote de Ouro, pois grande golo... A promover(-me) um sorriso para alguns dias.

(Leio que o confrade bloguístico José da Xã passou por mal-estar semelhante, no seu caso tendo-se ausentado dos penalties. Um abraço leonino, e que tenhamos mais sustos destes...)

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.