O passado não regressa
É impossível usufruirmos do melhor de dois mundos: não há benefícios sem sacrifícios.
Do qual estamos afinal, nós, europeus, dispostos a abdicar?
Não podemos fechar as fronteiras nem travar a torrente globalizadora.
Já não vivemos no tempo dos amplos mercados coloniais, nem das matérias-primas a desaguar na Europa a baixos preços, nem da natalidade elevadíssima, nem dos níveis de crescimento económico superiores a 5% que fizeram do nosso continente o que é, nas três décadas posteriores ao pós-guerra, e permitiram que o Estado-providência se tornasse no que se tornou.
Temos graves problemas estruturais numa zona euro que oscila entre a inflação e a recessão. Enquanto outras parte do globo crescem.
O Plano Marshall é irrepetível. E, se o não fosse, apontaria noutras direcções. Porque a guerra na Europa terminou há 78 anos.
De que parcela deste Estado-providência estamos dispostos a abdicar?
Que nível fiscal estamos dispostos a suportar?
Aceitaremos a redução das pensões de reforma para adequar os pagamentos ao nível de contribuições existente quebrando um pacto intergeracional devido às novas imposições da demografia? Ou, em alternativa, deverão cada vez menos cidadãos suportar contribuições cada vez maiores?
Estas perguntas não são retóricas. São cruciais. Iludi-las não nos conduzirá a lado nenhum. Ou antes: conduzirá ao progressivo definhamento da Europa, que vista de outras paragens parece uma senhora parada no tempo, alimentando-se da difusa nostalgia de um passado que não regressa.
Uma espécie de Gloria Swanson em Sunset Boulevard.