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Delito de Opinião

O novo ópio do povo

Pedro Correia, 28.08.19

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A TVI, no seu canal informativo, prometia ontem conceder destaque a Assunção Cristas, entrevistada por um jornalista da casa e alguns especialistas em diversas áreas incluídos entre os participantes nesta emissão, transmitida em directo. Sob o título genérico «Tenho uma pergunta para si» (o abuso do redundante pronome "si", que me soa sempre a nota de música, reflecte o empobrecimento da nossa linguagem comunicacional).

Tentei fixar a atenção nesta entrevista, mas desisti a meio. Porque me pareceu desde o início que se destinava apenas a despachar agenda e aliviar um fardo. Decorria tudo num tom tão impaciente, como se houvesse urgência máxima em retirar a presidente do CDS do ar, que obrigou uns e outros a falar em ritmo anormalmente acelerado.

Assunção, pressionada pelo ponteiro dos segundos, parecia uma picareta falante, para usar a expressão que Vasco Pulido Valente colou noutros tempos a António Guterres. Os interrogadores de turno, quando demoravam um pouco mais a formular a pergunta, eram de imediato interrompidos pelo profissional da casa. O próprio Pedro Pinto, ao comando desta emissão tão frenética, parecia mais confinado à função de cronometrista do que de jornalista.

E afinal tanta pressa para quê? Para que o mesmo canal informativo da TVI desse lugar a três cavalheiros de calças de ganga a discorrer tranquilamente sobre os mais recentes rumores do chamado "mercado de transferências" da bola. Preopinavam em modo pausado, de perna traçada, como se estivessem no café e tivessem todo o tempo do mundo para perorarem sobre coisa nenhuma.

Foi a minha vez de recorrer ao cronómetro: cavaquearam das 22.36 às 23.57. Um dos membros deste trio já estivera em antena durante a tarde, entre as 17.58 e as 18.48, tagarelando sobre o mesmíssimo assunto.

Estranho critério jornalístico, estranho critério informativo - cada vez mais monotemático. Como se nada mais houvesse de relevante do que as tricas do futebol.

Alguém aí falou em ópio do povo? Se o fez, acertou em cheio.

4 comentários

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    Pedro Correia 28.08.2019

    Admito que deteste "a Cristas", como você lhe chama por misoginia ou ódio ideológico (a maneira como nomeamos os outros, acredite, diz muito de nós próprios).
    Mas o que está em causa no meu texto nada tem a ver com o CDS. Tem a ver com um formato televisivo que considero execrável por desrespeitar a cidadania. Isto ultrapassa em larga medida as divisões políticas ou partidárias. É uma questão de fundo da nossa democracia.
    Sem jornalismo que informe, verdadeiramente, não há cidadãos esclarecidos. Acrescento que estamos a seis escassas semanas da eleição da próxima legislatura em São Bento, que determinará o elenco governativo que vai seguir-se.
    O que tem a generalidade dos canais televisivos a oferecer aos portugueses nos seus serviços "informativos"? Bola e mais bola e mais bola e mais bola e mais bola e mais bola e mais bola.
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    Anónimo 28.08.2019

    Não sou misógino nem suficientemente maluco para odiar uma pessoa que nem sequer conheço pessoalmente. Mas do ponto de vista político - e não importa se é mulher, homem ou uma das não sei quantas categorias intermédias que parece que existem atualmente - a Cristas enquanto política vale zero, não passa de uma criação medíocre de um criador genial. Por uma vez a criatura não ultrapassou o seu criador

    Cumprimentos
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    Pedro Correia 28.08.2019

    Discursos como o seu são música para os ouvidos dos programadores televisivos.
    Justificam que os debates políticos nos canais "informativos" de TV sejam reduzidos ao mínimo, substituídos por bola e mais bola e mais bola e mais bola.

    Com a vantagem, para os misóginos, de não haver "Cristas" nesses programas. Só há gajos de barba rija.
    Menina não entra.
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