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Delito de Opinião

O Nobel para Rushdie

Pedro Correia, 20.09.22

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Falta pouco para a atribuição do Nobel da Literatura. Deixo já a minha proposta ao Comité Nobel: deve ser galardoado Salman Rushdie. É mais que tempo, é mais que merecido. Para que não ocorra outra injustiça gritante, como a que agora se registou, ao morrer Javier Marías, grande escritor espanhol ignorado pelo júri sueco que teima em distinguir autores menores enquanto ignora gigantes da literatura - a lista é imensa, irei recordá-la aqui muito em breve.

A 12 de Agosto, Rushdie foi alvo da mais recente tentativa de assassínio. Com uma diferença em relação às anteriores: esta quase chegou a ser consumada. O escritor britânico nascido em Bombaim há 75 anos recebeu vários golpes de faca no abdómen e no pescoço quando se preparava para fazer uma conferência em Nova Iorque. Escapou por pouco a esta nova demonstração do ódio que lhe dedicam os muçulmanos fanáticos desde que o sinistro aiatolá Khomeiny lhe lançou uma fátua - sentença de morte - em 1989 por alegado crime de «blasfémia contra o Islão» no romance Versículos Satânicos.

Desde então, vários tradutores desta obra têm sido ameaçados e perseguidos em todo o mundo. Um morreu assassinado. É muito provável que a persistente ameaça do totalitarismo islâmico continue a tolher as sumidades que todos os anos se reúnem na capital sueca para proclamarem o melhor escritor do ano. Como se também elas fossem alvo de uma fátua.

É intolerável que Rushdie, perseguido há 33 anos pelo mais repugnante extremismo que usa a religião como pretexto para impor a lei do silêncio, seja igualmente vítima da atmosfera de medo que vigora em Estocolmo. Se algum escritor merece o Nobel, neste ano concreto, é ele. Aliás já o merecia desde que publicou Os Filhos da Meia-Noite, em 1981 - fabuloso cruzamento de relato histórico com realismo mágico expondo as feridas entre hindus e muçulmanos no subcontinente indiano como tema central. 

Dúvida nenhuma: o prémio deve ser para ele.

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