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Delito de Opinião

O Multibanco é nosso

Sérgio de Almeida Correia, 01.09.15

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Nas últimas décadas, com excepção da construção da democracia e de alguns pequenos nichos na ciência, no desporto, na literatura, na música ou no cinema, onde a criatividade e o génio lusíada se manifestam, devem ser poucas, muitas poucas, as obras verdadeiramente importantes que enquanto portugueses fomos capazes de construir e dar ao mundo. Temos alguns bons gestores, meia dúzia de empresários dignos do nome, muitos anónimos, mas raras são aquelas obras em que de facto se tenha deixado uma marca de perenidade de tal forma relevante que aqueles que, sabe-se lá porquê, têm sido os nossos modelos não hesitam admirar. A criação do Multibanco é uma dessas obras. E no momento em que passam trinta anos sobre o seu lançamento gostaria de aqui deixar uma nota de apreço a quem o concebeu e aos informáticos portugueses que têm afirmado internacionalmente a qualidade da nossa inovação, em especial no campo da segurança informática e no uso das novas tecnologias. Recordo-me de alguns amigos meus serem despertados a meio da noite por causa do sistema, dos dias e noites que perdiam a procurar as melhores soluções, a garantirem que tudo funcionaria na perfeição. Ao fim de trinta anos é mais do que justo homenagear essa gente, a maior parte desconhecidos para a generalidade dos portugueses, que além-fronteiras deixa muita gente extasiada - não há outra palavra - com a qualidade do seu trabalho. Gente que percorre o mundo a dar cursos, em Londres, em Nova Iorque, em muitos outros locais, sempre apresentando novas soluções, dando a conhecer as que têm, e contribuindo com o seu know-how para o progresso e para facilitar a vida das pessoas, que é aquilo para que as máquinas e a tecnologia devem servir.

Os portugueses que estão habituados a viajar e os que vivem fora do país não podem deixar de ter registado o avanço das nossas máquinas e a quantidade de operações que nelas se pode fazer em pouquíssimo tempo e com a máxima segurança por comparação com os equipamentos que prestam um serviço parecido noutros países. Parecido, digo eu, porque os nossos equipamentos são mais modernos, mais seguros e realizam mais tarefas. De levantamento de fundos a transferências e emissão de cheques, permitindo a realização de pagamentos da mais variada espécie, da electricidade a custas judiciais e impostos, sem esquecer a venda de bilhetes de comboio e para espectáculos musicais, quase que diria que ao Multibanco nem falar falta porque até há gravações a recordarem-nos o que temos de fazer para o cartão ou o dinheiro não ficarem esquecidos na máquina. Centros financeiros como Tóquio ou Hong Kong não têm máquinas ATM que proporcionem serviços com a qualidade dos nossos.

O Multibanco não é a panaceia para os nossos males, mas devia ser um exemplo de como em Portugal se podem fazer coisas bem feitas e úteis que a todos servem. Ganham as empresas, ganham os bancos, ganham os cidadãos. No dia em que Portugal, a sua administração pública, o seu governo, as suas instituições, funcionarem como o Multibanco e as nossas obrigações colectivas forem cumpridas com a mesma limpeza, economia, discrição e eficiência, poderemos dizer que o país funciona bem. Não sei se algum dia esse momento chegará, nem quando, porque também não sei ler nas estrelas e não acredito em novos messias. Menos ainda naqueles que temos por aí com a cara nos cartazes. De qualquer modo, entretanto, espero que não dêem cabo do Multibanco e que alguns banqueiros, para poderem continuar a circular em topos de gama alemães e a usar o cartão de crédito nos restaurantes do Guincho, não o queiram transformar em mais uma fonte de conflito à custa dos portugueses, novos e  velhos, estudantes ou reformados, trabalhadores ou desempregados, que nos centros urbanos e rurais, no litoral e no interior, dependem do Multibanco para o seu dia-a-dia e das máquinas milagrosas para tornarem os seus dias menos penosos e mais longos. 

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