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Delito de Opinião

O MRPP já não é o que era.

Luís Menezes Leitão, 24.09.15

É com tristeza que vejo o MRPP perder a veia revolucionária que sempre o caracterizou, para adoptar os cânones do politicamente correcto. Desde sempre que o MRPP albergou os políticos mais radicais que temos tido em Portugal, ainda que muitos deles com o tempo tenham adoptado uma atitude mais serena. É assim que Durão Barroso e Ana Gomes transitaram respectivamente para o PSD e para o PS, assumindo posições políticas importantes, procurando adoptar um discurso moderado, ainda que de vez em quando deixem escapar algum radicalismo, herdado seguramente da sua militância juvenil. Quando ouvi Durão Barroso a dizer que, ou Portugal fazia o que ele queria, ou estava o caldo entornado, logo me pareceu ouvir uma reminiscência dos seus tempos no MRPP.

 

Mas, se havia militantes que o abandonavam em busca de prados mais verdejantes, o MRPP permanecia idêntico ao que sempre foi. Sempre gostei por isso de ver as posições que assumiam, de um estalinismo e maoísmo convictos. Quando, por exemplo, os trotskistas sustentavam que a União Soviética se tinha desviado dos seus fins quando Estaline tomou o poder, o MRPP respondia, pelo contrário, que tal só tinha acontecido quando Estaline morreu.

 

É por isso que o MRPP era o único partido que nestas eleições assumia um discurso convicto, sem falinhas mansas. Enquanto os outros partidos titubeavam sobre a saída do euro, o MRPP proclamava convictamente "queremos o novo escudo", usando a denominação tradicional das moedas desvalorizadas. Quando os outros partidos iam debater na televisão com os seus inimigos de classe, o MRPP proclamava "morte aos traidores", fazendo-nos sentir que regressávamos a 1975, quando Otelo disse que ia pôr todos os fascistas no Campo Pequeno.

 

Mas agora tudo acabou. Bastou uma pequena sátira do Gato Fedorento, e logo o MRPP retira a frase da campanha. O MRPP rendeu-se agora ao politicamente correcto e passou a ser um partido como os outros. Bem pode Garcia Pereira dizer que a suspensão da frase não isenta os "traidores da morte certa que os espera". Nos velhos tempos o MRPP não suspenderia frase alguma. Proclamaria que ninguém iria calar a voz da classe operária e colocaria o Gato Fedorento na lista dos traidores a abater. Só podemos por isso concluir que o MRPP já não é o que era.

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