O mito Kennedy.
O Pedro lembra abaixo a efeméride de hoje passarem 55 anos sobre o assassinato de John F. Kennedy que criou um enorme mito na política americana. Aqueles que morrem jovens normalmente atingem o estatuto de heróis, uma vez que todos têm tendência para assumir que iriam deixar grandes realizações neste mundo e que só a morte prematura os impediu de fazer aquilo a que estavam destinados. Kennedy, vítima de um brutal assassinato dramaticamente relatado nos media, com um enterro de estado transmitido a todo o país, em que os americanos viram uma jovem viúva de 30 anos destroçada e um filho de três anos a fazer a continência, atingiu precisamente esse estatuto.
O problema é que devido a esse mito, nunca foram escrutinadas as enormes fragilidades da presidência de Kennedy. Começou logo com a sua ligação à Mafia, via Sam Giancana, de quem se diz que organizou uma verdadeira chapelada eleitoral nos estados decisivos, permitindo a derrota de Nixon. Prosseguiu com o ataque a Cuba na Baía dos Porcos, um fracasso total, e depois com a tentativa de assassinar Fidel Castro, através do recrutamento de uma sua amante. O resultado foi Castro ter aceitado colocar mísseis dirigidos aos Estados Unidos em Cuba, o que quase colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear, apenas resolvida com uma negociação secreta por troca com os mísseis na Turquia, mas que Kennedy nunca quis assumir. Tal contribuiu para a queda de Kruschev, substituído por Brezhnev, cujo radicalismo fez adiar por décadas o fim da guerra fria. Os seus apoiantes garantem que Kennedy era um pacifista e iria retirar as tropas americanas do Vietname, mas não ele nunca deu qualquer sinal nesse sentido.
Em relação ao assassinato de Kennedy, para mim é manifesto que Oswald não agiu sozinho e não faltam candidatos a mandantes, desde a Máfia (que nunca perdoou o facto de Kennedy não lhe ter retribuído o apoio na campanha eleitoral) aos cubanos (devido aos sucessivos ataques a Cuba) e aos soviéticos (furiosos com a forma como a resolução da crise dos mísseis foi anunciada publicamente). Se tivesse que apostar, apostaria em que o mandante foi Fidel Castro. Oswald tinha ligações a Cuba, o que me leva a crer que, se Kennedy falhou na tentativa de matar Fidel Castro, Castro não falhou no objectivo de assassinar Kennedy. A tentativa da administração Johnson de apresentar o crime como um acto isolado tem a explicação de que a divulgação do verdadeiro mandante levaria necessariamente a uma guerra nuclear, o que se quis prevenir depois da crise dos mísseis. A razão de Estado muitas vezes suplanta o sentimento.