O ministro em fuga
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Marcelo Rebelo de Sousa, naquela modalidade de duplipensar em que se tornou exímio praticante muito antes de ascender ao Palácio de Belém, acaba de fazer nova declaração ambígua: Mário Centeno, o ministro em fuga, «fica para a história».
Na dúvida, uso agá minúsculo: tratando-se de uma declaração não escrita, é impossível escrutinar com exactidão o pensamento do Chefe do Estado. Equiparia Centeno a um vulto digno de figurar em futuros manuais de História ou apenas a um alvo da petite histoire para uso momentâneo nos salões em voga?
Em contraste com esta dúvida, subsiste uma certeza: Marcelo, que agora o elogia, teve papel determinante quando forneceu a Centeno o pretexto de que o titular cessante das Finanças necessitava para afastar a mão do leme em período de tempestade após «1664 dias» de bonança. Refiro-me à declaração presidencial que lhe tirou o tapete em pleno conflito verbal com o primeiro-ministro a propósito da recente injecção de capital ao Novo Banco.
Centeno - tão "histórico" como António Guterres, Durão Barroso ou Vítor Gaspar, outros governantes em fuga - atreveu-se a declarar em entrevista ao Financial Times que em Novembro de 2015, quando iniciou funções, «o crescimento económico era muito pobre e estava a desacelerar».
Uma declaração falsa, como o Polígrafo demonstrou citando o Instituto Nacional de Estatística: naquele ano o PIB nacional cresceu 1,82%, tendo-se registado um aumento de 1,3% no último trimestre, em comparação com o período homólogo de 2014. O que muito facilitou a tarefa de Centeno.
Oxalá o seu sucessor, que será empossado na próxima segunda-feira, pudesse dizer o mesmo.